Poder de fogo
A vitória de ontem foi (mais que) justa.
Os argumentos individuais apresentados por ambas as equipas são bastante diferentes, com enorme vantagem para o Sporting. Ainda assim o Estrela tem alguns bons executantes, começando pelo seu guarda-redes, que até é habitualmente suplente, seguido de Miguel Lopes, capitão e confesso sportinguista que fez uma excelente partida, de Gaspar, internacional angolano que esteve muito bem e lá na frente de Ronaldo e de Kikas que estiveram em constante movimento lançados nas costas dos nossos defesas.
O treinador do Estrela disse que não ia a Alvalade defender(-se) e cumpriu. Honra lhe seja feita por prestigiar-se e prestigiar a sua equipa e o futebol. É desta emoção que o jogo precisa. É certo que teve no GR o seu melhor elemento, mas convenhamos que ele está lá para defender. E se defendeu! O Estrela fez uma bela partida, é certo, mas não fora a enorme exibição de António Filipe e a ineficácia dos nossos rapazes lá na frente e o resultado poderia ser mais dilatado, com uma diferença de mais dois ou três golos. Muitos tiros de pólvora seca, coisa que se vai tornando habitual. Há que melhorar o poder de fogo e carregar os cartuchos com chumbo grosso, que um dia vamos à caça e podemos ser caçados.
Nem tudo está bem quando acaba bem. Coates não está bem, talvez precise de descansar, a sua eficácia depende muito da sua boa condição física e ontem falhou em duas ocasiões: Fez um penalti, num lance de azar (a bola podia ter passado sem lhe tocar na mão), mas em situação normal o adversário não chegaria à posição de centrar e deixou-se ultrapassar por Kikas no segundo dos amadorenses. Esgaio continua o patinho feio desta equipa, apesar de ter em seu favor o facto de não ser fácil fazer parceria no flanco com Edwards, que defende pouco e se desposiciona muito, os génios são um pouco assim, mas não desculpa a pouca eficácia de Esgaio na ala, nomeadamente nos centros que (não) fez. Acertou uma vez com a cabeça de Coates, a única coisa digna de registo que fez neste particular, estando no entanto certinho a defender o que nos dias de hoje é muito pouco para um lateral. Pedro Gonçalves é exasperante, ontem fez mais uma vez um jogo apagado, mas é outro Edwards, trapalhão às vezes, mas capaz de num instante de inspiração tirar um coelho da cartola. Ontem o GR do Estrela estragou-lhe o número de magia, para nosso (e dele) azar. Falhou no entanto pelo menos três vezes na finalização. Aquilo parece displicência, mas é mesmo assim e às vezes a bola entra. Parece fácil, mas tirem daí a ideia. Mas às vezes parece um a menos, caramba.
O jogo valeu e muito pelos três pontos, pelos três belos golos. Bragança marcou pela primeira vez em Alvalade e logo com um excelente golo, Edwards fez lembrar "Deus" marcando uma coisa do outro Mundo e Paulinho fez um de compêndio, cabeceando de cima para baixo, como mandam as regras, na sequência de um centro com conta, peso e medida, de Edwards. Mas o jogo valeu ainda mais pelo espírito da equipa, pela reacção à adversidade e pela excelente leitura do treinador. Mais ficaram por marcar, como já disse muito por "culpa" do GR do Estrela e outros por clara ineficácia dos nossos, como referiu Ruben Amorim no final do jogo.
É certo que o jogo andou mais ou menos a passo na primeira parte e a única situação de registo foi mesmo o golo de Daniel Bragança, já que até aí o Sporting não havia rematado à baliza adversária, mas na segunda metade o que não lhe faltou foi emoção e diabos, o meu coração já não está preparado para estas coisas.
Regista-se com agrado que hoje há jogadores que podem substituir outros na titularidade sem que o rendimento da equipa decresça e que há no banco uma ambição de contribuir para a equipa com outros à altura dos que iniciam o jogo. O Sporting deste tempo não alinha apenas com onze, há hoje várias opções à disposição do treinador. E, sejamos justos, a "responsabilidade" é dele, que os tem moldado e lhes tem incutido esse espírito, o de que todos são precisos e úteis.
Por fim quero destacar duas frases proferidas após o final do jogo:
Miguel Lopes, comovido: O Sporting é o clube do meu coração.
Edwards: Never give up.