Pensamentos de um louco
Vamos imaginar o seguinte cenário:
Era uma vez um rapaz chamado Zé Ninguém.
O Zé nunca tinha conseguido nada na vida, criava umas empresas e comportava-se como o típico patrão português (não empresário), levando-as à ruina reiteradamente. Tinha uma vida normal, lutava para pagar contas e sobreviver. Mas era um homem ambicioso, sendo que o seu maior sonho era presidir o seu clube de coração.
Um dia, e após algum trabalho, consegue chegar onde sempre sonhou e inicia as suas funções como presidente do clube. Não podemos esquecer que o Zé tem quarenta e tal anos e pouca experiência em lidar com os “meninos grandes” porque, no máximo, negociou com o Sr. Silva da pequena empresa da esquina.
Como também era o menino mimado que os papás sempre ajudaram, no final de tudo acaba por ficar deslumbrado.
Quando se deslumbra, começa a tratar todos da mesma forma, revela-se agressivo, autoritário e inicia a sua cruzada, tentando “abater” todos os que considera estarem errados, bastando apenas não concordarem com ele.
Cumpre o seu primeiro mandato, que até podemos concordar que foi positivo, apesar do estilo agressivo com que a maioria dos adeptos do clube não concorda, e inicia o seu segundo mandato.
Com o decorrer do tempo, o Zé esquece as suas raízes, a sua proveniência e quais as razões que o colocaram à frente dos destinos do Clube. O Zé já não se considera um Ninguém, pensa que agora o seu apelido é o Qualquer Coisa. Ele já lida com os “meninos grandes” e as negociações já têm mais do que três zeros… O Zé está crescido! Já vive num condomínio de luxo, anda de BMW, janta no Ramiro e tem vícios caros, tudo o que 99% dos portugueses ambiciona.
O grande problema é que o Zé já começa a ficar cansado, no decorrer dos anos colecionou inimigos e compreendeu que a indústria do futebol não lhe vai permitir vencer algumas batalhas.
Assim sendo, o Zé começa a pensar como irá conseguir obter o máximo em menor tempo possível, tornando-se assim igual a todos os outros. Logo, começam as negociatas e as comissões, aumenta o seu vencimento, etc… Na prática, este Zé já não interessa ao clube porque iniciou o ciclo da sobrevivência.
Agora vamos imaginar a difícil tarefa de estarmos na cabeça do Zé.
Como é que ele vai obter o máximo em menor tempo possível? A resposta é simples. Se o Zé chegar a acordo com um grupo económico e desvalorizar o clube, perdendo os seus ativos e com isto permitir que apareça um D. Sebastião (o tal grupo económico) a comprar as ações a um valor diminuto?
Não seria uma forma fácil de enriquecer? Parece que sim.
O tempo apaga tudo e depois o D. Sebastião:
- Adquire as ações do clube a baixo custo;
- Conquista a maioria do capital da SAD e torna-se dono do clube;
- Volta a capitalizar o clube e renova o plantel;
- A massa associativa fica feliz porque alguém salvou o clube e reforçou o plantel;
No final o Zé sai de cena mais rico, continua a culpar o sistema e acusa os sócios de não lhe terem dado mais poder para evitar que o clube fosse parar nas mãos do grande grupo económico.
Esta história pode ser ficção mas… Eu nunca acredito que alguém chega à presidência com quarenta e tal anos e cometa loucuras. Tento compreender o que está a acontecer para além do que todos sabemos. Penso que estamos perante uma verdadeira jogada de bastidores.
Ou seja, o nosso clube está a ser tomado de assalto por alguém que no futuro vamos conhecer.
Esta técnica de criar instabilidade para desvalorizar e vender a baixo custo é conhecida e várias vezes utilizada em empresas, países e organizações. Fico triste porque vai acabar o Sporting Clube de Portugal que todos nós conhecemos. Não estou a dizer que o clube vai acabar, mas o modelo sim. Talvez algumas das nossas tradições, mas espero que ao menos se mantenham os princípios basilares do clube.