Pena não termos jogado sempre assim...
Paços de Ferreira, 0 - Sporting, 4
Trincão muito cumprimentado logo após ter marcado o terceiro golo leonino em Paços
Foto: Manuel Fernando Araújo / Lusa
Foi uma grande exibição de futebol de ataque a que o Sporting fez, domingo passado, no estádio Capital do Móvel. Perante um Paços de Ferreira incapaz de dar luta mínima: durante todo o jogo, a turma anfitriã não fez um só remate enquadrado digno desse nome à nossa baliza nem sequer conseguiu ganhar um canto. Para cúmulo, ofereceu-nos o primeiro golo, logo aos 8', com um caricato atraso de Luiz Carlos, traindo o guarda-redes Marafona, que ainda lhe viu a bola ressaltar num pé antes de entrar.
Diga-se a verdade: os nossos jogadores não deram hipóteses. Com um Nuno Santos no comando das operações como extremo esquerdo, sem missão defensiva (Gonçalo Inácio assegurava esse trabalho), sempre a municiar o ataque. Ele próprio, talvez já enfastiado com os assobios escutados cada vez que tocava na bola, assinou uma obra-prima em forma de golo aos 33': simulou, sentando Marafona, e atirou por cima, num primoroso chapéu. Bastaria este lance para justificar o bilhete pago.
Também Trincão fez a diferença, numa das suas mais competentes exibições de verde e branco. Melhor em campo, vem evoluindo de jogo para jogo: leva já 12 golos marcados na temporada, algo que nunca antes conseguira.
Desta vez marcou o terceiro, aos 62', recebendo a bola e girando sobre si próprio enquanto deixava plantados os dois centrais do Paços e a metia no sítio certo. Outro grande golo, confirmando o bom momento de forma da nossa equipa no plano ofensivo.
Pedro Gonçalves desta vez não marcou. Mas destacou-se com uma assistência - a sua décima neste campeonato, em que lidera isolado no número de passes para golo. Foi ele a municiar Trincão no terceiro desta goleada. O quarto viria a ser marcado por Chermiti, aos 90'+3, na última jogada do desafio. Golo à ponta-de-lança: foi só encostar, no sítio certo. Certamente dará muita confiança ao nosso jovem avançado, que tem apenas 18 anos.
No quarto de hora final Rúben Amorim desfez o seu habitual 3-4-3 para escalar a equipa num surpreendente 4-4-2, montando um meio-campo muito largo com Arthur à esquerda e Trincão à direita, enquanto o duo Tanlongo-Pedro Gonçalves pontificava no corredor central e o par Paulinho-Chermiti evoluía na grande área do Paços. Atrás, Bellerín recuava uns metros para fechar o quarteto (com Matheus Reis, Diomande e Gonçalo Inácio).
Interessante experiência, já a pensar na temporada que vai seguir-se.
Soube a muito?
Sim: é sempre bom golear fora de casa.
Mas também soube a pouco, este nosso décimo desafio seguido da Liga 2022/2023 sem derrotas. Dá cada vez mais a impressão que só decidimos carregar verdadeiramente no acelerador já demasiado tarde neste campeonato, quando Benfica, FC Porto e Braga se encontravam bem acima de nós na classificação.
Agora cruzamos os dedos. Faltam três jogos para o pano cair, a turma braguista está quatro pontos à nossa frente e beneficia de um calendário aparentemente mais fácil. Nesta fase, quase só por milagre chegaremos à próxima Liga dos Campeões. Não é impossível, mas é muito improvável.
Querer nem sempre é poder: deixámos de depender só de nós. Tivéssemos actuado sempre como desta vez em Paços e tudo seria bem diferente...
Breve análise dos jogadores:
Adán - Quase sem trabalho. Não fez uma defesa digna desse nome.
Diomande - Exibição positiva. Pena não ter concretizado uma oportunidade de golo logo aos 2', quando apareceu livre de marcação frente à baliza.
Coates - É ele a iniciar a jogada do segundo golo, com magnífico passe longo. Deslize aos 26', quando se deixou fintar por Guedes. Saiu aos 82'.
Gonçalo Inácio - Quase marcou na sequência de um canto, aos 33': Marafona impediu, com uma defesa quase impossível. Impecável nas dobras a Nuno Santos.
Bellerín - Arriscou pouco pelo seu corredor: tinha instruções para isso. Mas foi seguro na missão defensiva. E tem bom toque de bola, tanto no passe curto como nos cruzamentos.
Ugarte - Por vezes passa despercebido. Mas é de uma utilidade extrema. Basta reter este número: fez 11 recuperações.
Morita - Dinâmico no corredor central, criou duas situações de golo para Pedro Gonçalves (49' e 52'). Precipitou-se aos 53', oferecendo a bola em zona de perigo. Amarelado, saiu aos 65'.
Nuno Santos - Voltou a ser um poço de energia, indiferente às vaias que escutava das bancadas. Assinou um golaço aos 33': marcou pela oitava vez nesta Liga. Substituído aos 75'.
Edwards - Bastante apagado: pedia-se mais dele. Mesmo assim, fez um grande centro para Diomande (2') e quase assistiu Trincão aos 37'. Saiu aos 65'.
Pedro Gonçalves - Perdulário: a vontade enorme de marcar tirou-lhe discernimento. Podia tê-lo conseguido no primeiro minuto, aos 25' e aos 49'. Assistiu Trincão no terceiro.
Trincão - Marcou o terceiro culminando um brilhante trabalho individual, assistiu Nuno no segundo, esteve quase a conseguir outro golo (37'). Pôs a defesa do Paços em sentido.
Tanlongo - Entrou aos 65', rendendo Morita. Pareceu mais confiante no que noutros jogos. Rematou à figura (68').
Paulinho - Substituiu Edwards aos 65'. Veio de lesão, ainda fora de forma. Deu pouco nas vistas.
Arthur - Em campo desde os 75', por troca com Nuno Santos. Continua a jogar poucos minutos, mas sempre que entra faz a diferença - para melhor. Assistiu Chermiti no quarto golo.
Matheus Reis - Substituiu Diomande aos 82'. Com vontade de mostrar serviço. Lateral esquerdo, subiu muito no terreno sem problema. Bons cruzamentos aos 85' e 87'.
Chermiti - Substituiu Ugarte aos 82'. Actuou como ponta-de-lança clássico. Dispôs de duas oportunidades: na primeira (85') atirou ao poste; na segunda (90'+3), meteu-a no sítio certo.