Pedro e Viktor, obreiros da primeira vitória
Sporting, 3 - Rio Ave, 1
Enquanto colegas festejam golo inicial, Pedro Gonçalves parece já com vontade de marcar outro
Foto: Rodrigo Antunes / Lusa
É muito importante começar com o pé direito. Foi assim que iniciámos há três dias, na sexta-feira, a nossa participação na Liga 2024/2025: com uma vitória clara, inequívoca, sobre o Rio Ave - equipa bem arrumada e bem orientada, com alguns talentos individuais, mas que foi incapaz de fazer frente ao onze leonino.
Sobretudo na primeira parte, o Sporting dominou por completo. Num futebol vertiginoso, veloz, de olhos na baliza. Boas movimentações, com bola e sem ela. Aqui imperou Pedro Gonçalves, que manteve a tradição de se estrear como marcador inicial dum campeonato: tem sido assim em três dos últimos cinco, todos de Leão ao peito.
Com ele, tudo parece mais fácil. Aconteceu logo aos 6', ao receber um passe teleguiado de Gyökeres a que só precisou de dar o melhor caminho à gorduchinha. Voltou a ser assim aos 26', ao interceptar uma bola muito mal reposta em jogo por Jhonatan, guardião rioavista, encaminhando-a para o fundo das redes com um toque de habilidade: finalização de classe. Dispôs de mais duas ocasiões de golo, aos 21' (novamente a passe do craque sueco) e aos 61' (muito bem servido por Geny). Foi quanto bastou para ser o melhor em campo, sem discussão.
Ao intervalo, 2-0. Mais de 35 mil adeptos nas bancadas ao início duma noite de Verão, ainda com resto de sol em Alvalade. O público estava satisfeito, ninguém previa a repetição do descalabro da partida anterior, quando deixámos fugir a Supertaça perdendo por 3-4 após confortável vantagem por 3-0.
Rúben Amorim tirou lições desse desaire, tão doloroso para a massa adepta. Deixou Debast no banco, trocando-o por Diomande: assim deu sinal ao central belga, apontando-o como principal responsável por aquele troféu nos ter fugido. A nossa defesa ficou mais sólida, com óbvia voz de comando: o marfinense não é Coates, claro, mas ninguém mais do que ele se aproxima desse estatuto neste Sporting 2024/2025.
Os corredores externos continuaram entregues a Geny (esquerdo) e Quenda (direito), ambos com boa dinâmica ofensiva. O miúdo de 17 anos, em estreia absoluta como titular em jogos de equipa adulta, deu excelente conta do recado. Não marcou, mas deu a marcar: é dele o magnífico passe de ruptura a desmarcar Gyökeres no lance do primeiro golo. Com uma maturidade táctica e um desenho técnico muito acima do que é habitual para a sua idade.
Foi um dos heróis do jogo.
Outro foi o próprio Viktor, que pôde enfim matar a fome de golos. Após assistir Pedro no primeiro, fez ele o gosto ao pé, apontando o terceiro que desfez as últimas dúvidas no estádio sobre o destino dos três pontos. Após remate inicial de Trincão, que sofreu um desvio, a bola sobrou para o sueco, que lhe deu o melhor caminho, com alguma colaboração do guarda-redes. E ainda mandou uma bola à trave, logo a abrir a segunda parte.
Destaque ainda para a formação leonina - que andaria a ser desprezada, na opinião de alguns. Terminámos com seis jogadores formados em Alcochete: Eduardo Quaresma, Gonçalo Inácio, Quenda, Mateus Fernandes, Daniel Bragança e Rodrigo Ribeiro. Fica tudo dito sobre o tema.
Estava o resultado quase feito. E teria soado a perfeição se não fosse o golo consentido mesmo ao cair do pano, no minuto 90. Única oportunidade para a turma forasteira no desafio: com a nossa equipa adiantada no terreno, abriu-se uma avenida que Clayton aproveitou para a meter lá dentro. Haveria deslocação se Diomande tivesse prestado atenção à linha de fora-de-jogo, como lhe competia. E lá encaixou Vladan mais um golo: incapaz de fazer a mancha, limitou-se a vê-la passar.
Já são cinco sofridos em apenas duas partidas oficiais da temporada.
Nada é hoje mais prioritário no Sporting do que garantir a estabilidade defensiva. É verdade que ainda nos falta contratar outro avançado-centro, mas nenhuma equipa pode sonhar ser campeã a sofrer tantos golos.
E nós sonhamos com o bicampeonato, que nos foge há 70 anos. É isso que nos anima, acima de tudo o resto. Acreditamos que vamos conseguir.
Eu, pelo menos, acredito. E vocês?
Breve análise dos jogadores:
Vladan - Teve muito pouco trabalho. Só tocou na bola ao minuto 28'. E agarrou-a aos 83'. No golo, teria sido difícil - mas não impossível - fazer melhor.
Eduardo Quaresma - Está mais maduro, gere melhor o esforço, domina melhor o tempo de intervenção. Quer ser titular e trabalha para isso.
Diomande - Voltou ao onze, após a Supertaça. Imperou no jogo aéreo. Impôs bem o físico. Só falhou no lance do golo sofrido: pôs Clayton em jogo.
Gonçalo Inácio - Certinho, controlou o lado esquerdo do bloco defensivo, acorrendo às dobras de Geny sempre que foi necessário. Bom no passe longo.
Quenda - É um caso sério, como já se viu. Agarrou titularidade aos 17 anos, relegou Geny para ala oposta. Desequilibrador nato. Fez magnífica pré-assistência no primeiro golo.
Morten - Capitão desde a partida de Coates, impôs autoridade no meio do terreno, recuperando e distribuindo jogo. Trabalho desgastante: cumpriu com zelo.
Morita - Mantém parceria perfeita com o dinamarquês. Correu para trás quando foi preciso reforçar defesa. E quase marcou, de ângulo apertado, aos 18'.
Geny - Com Nuno Santos ausente por lesão, adaptou-se bem à ala esquerda, servindo Gyökeres (21') e Pedro Gonçalves (61'). Falta-lhe afinar pontaria à baliza.
Trincão - No seu centésimo jogo pelo Sporting, exibição muito positiva. Inicia primeiro golo ao tocar para Quenda e é dele o remate inicial no terceiro. Quase marcou, em arco, aos 67'.
Pedro Gonçalves - Dois golos, plenos de oportunidade. Finaliza bem no primeiro, recupera e coloca-a no ninho da águia no segundo. Especialista a trabalhar entre linhas.
Gyökeres - Marcou o terceiro golo: justo prémio para o seu trabalho incessante. Assistiu no primeiro, mandou bola à trave aos 46', arrancou um amarelo aos 35'. Fôlego impressionante.
Mateus Fernandes - Substituiu Pedro Gonçalves aos 65'. É, sobretudo, um transportador de bola: bons apontamentos no corredor central.
Edwards - Entrou para o lugar de Trincão aos 76'. Disputou bem uma bola, mas depois não soube o que fazer com ela: centrar ou rematar? Nem uma coisa nem outra.
Daniel Bragança - Substituiu Morten aos 76', recebendo braçadeira de capitão. Bem servido por Quenda, quase marcou num tiro aos 89'.
Matheus Reis - Rendeu Geny aos 76'. Discreto, controlou ala esquerda. Sem sobressaltos.
Rodrigo Ribeiro - Substituiu Morita aos 90'. Pouco mais do que três minutos em campo - o suficiente para mandar uma bola à trave (90'+3). Merece manter-se no plantel.