Paulo Bento
Paulo Bento treinou o Sporting durante 4 anos e meio, lugar a que ascendeu após conquistar dois títulos juniores, sempre queridos num clube que muito se identifica com o ecletismo desportivo e a ênfase no desporto jovem ("formação", passou a dizer-se). Os 4 primeiros anos na equipa sénior foram bons, com alguns títulos e, acima de tudo, qualificações sucessivas para a apetecida Liga dos Campões, fundamental para as finanças dos clubes de topo. Para além de apadrinhar jovens jogadores, a desejável marca d'água do clube. Faltou o título nacional, usual pecha no clube - numa das épocas em particular por razões um pouco alheias ao estrito jogo (...).
Depois Paulo Bento passou a seleccionador nacional durante 4 anos. No Europeu de 2012 levou a equipa até às meias-finais e perdeu no desempate por grandes penalidades com a Espanha, a grande selecção do futebol mundial nas últimas décadas e que então foi sucessivamente campeã mundial e bi-campeã europeia. Serve para comparar com a idolatria à selecção de 2016 que ganhou o Europeu, também com desempate por penalidades e jogando muito pior. Diferença vinda da "lotaria dos penalties". Após esse torneio Bento liderou a campanha ao Mundial de 2014, um falhanço rotundo no qual foi público o mal-estar de vários jogadores. Depois continuou o seu rumo com garbo: foi campeão grego, esteve na "árvore das patacas" do futebol chinês e há anos que exerce o prestigiado cargo de seleccionador sul-coreano.
É interessante que após este belo percurso profissional nem sportinguistas nem adeptos da selecção tenham particulares saudades de Paulo Bento, e sobre ele escasseiam as evocações, inexistem as invocações, até resistem algumas imprecações. Certo, muito disso porque faltou o título nacional no clube e o europeu na selecção. E é evidente que o homem não tem "boa imprensa". Mas esse afastamento, até amnésico, funda-se numa imagem pública, talvez um pouco injusta mas... real pois existente. A de uma personalidade algo desabrida, pouco dialogante, confundindo convicção com inflexibilidade e nisso desperdiçando recursos e opções, e potenciando conflitos improdutivos. Por isso, e apesar dos seus resultados terem sido excelentes (não óptimos mas excelentes), nem o ansiamos nem resta grande admiração. E ficou até algum azedume. Eu, sportinguista, julgo isso muito injusto. Mas é o que é. (...)
(Estas considerações sobre Paulo Bento foram escritas para um postal de teor político, em registo de analogia. Reproduzo-as aqui porque são, grosso modo, o que penso sobre o nosso antigo treinador. Mas não replico o texto na sua totalidade, pois considero desapropriadas reflexões sobre política (que não seja política desportiva, claro) neste blog. Mas, para hipotéticos interessados, deixo a ligação ao texto completo, que coloquei no blog Delito de Opinião)