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És a nossa Fé!

Outra vitória arrancada a ferros

Sporting, 2 - Vizela, 1

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Porro acaba de marcar o golo da nossa vitória muito sofrida frente ao Vizela

Foto: António Pedro Santos / Lusa

 

Parece sina nossa esta época: fechamos a primeira volta do campeonato com outra exibição cheia de momentos a roçar a mediocridade, com jogadores que não cumprem os mínimos em campo. Frente a uma equipa com um orçamento incomparavelmente inferior ao nosso (já que agora a moda é comparar orçamentos), vimo-nos aflitos para marcar um golito, que só surgiu quando estava decorrida quase uma hora de jogo. Depois, como é costume, recuámos muito no terreno e deixámos a turma adversária crescer - e marcar. E lá voltou o carrossel dos aflitos, incluindo o capitão Coates em "comissão de serviço" lá na frente, tentando nos dez minutos finais conseguir aquilo que Paulinho foi incapaz de fazer.

Valeu-nos um penálti. Mais um, pelo segundo jogo consecutivo. Obtido já nessa fase do desespero, em que o mandamento táctico parecia ser "tudo lá na frente e seja o que Deus quiser". As orações foram escutadas: a grande penalidade caiu do céu ao minuto 90'+5. Mas concretizada de modo impecável, num pontapé bem terreno. Não por um avançado, mas por um defesa. O nosso lateral direito Pedro Porro, que podemos estar quase a perder para um emblema da Premier League.

Mais um, após Palhinha e Matheus Nunes. Parece sina também.

 

E no entanto até entrámos a pisar o acelerador, reagindo com eficácia à pressão alta que os vizelenses ousaram fazer naqueles minutos iniciais em Alvalade. Conseguimos esticar o jogo e colocar a bola lá na frente. O problema, para não variar, ocorreu na zona decisiva, a de finalização. Logo aos 5', Paulinho teve soberba oportunidade de abrir o marcador: fez tanta pontaria que acertou, isolado, na cabeça do guarda-rede.

Seguiu-se um festival de desperdício que pôs os nervos em franja nas bancadas de Alvalade, escassamente povoadas: apenas 23 mil espectadores na noite fria de anteontem - incluindo cerca de meio milhar de adeptos do Vizela. Jogo iniciado às 21.15 - horário absurdo para Inverno, mesmo sendo sexta-feira. Não admira que tenha sido o pior registo da temporada, até ao momento, em número de lugares preenchidos no nosso estádio.

 

Foi exasperante continuar a ver tanto golo desperdiçado naquela primeira parte que terminou com o resultado ainda em branco. Paulinho voltou a ter o golo nos pés ou na cabeça sem conseguir dar a melhor sequência à bola: ou mandava para fora ou lhe acertava tão de raspão que aquilo resultava em nada. Aos 20', 32' e 44'. Trincão seguia-lhe o exemplo, com um par de clamorosos falhanços aos 11' e aos 19'.

Ouviam-se os primeiros assobios. E não faltou quem gritasse «Joguem à bola!»

Rúben Amorim decidiu mexer mais cedo do que é costume. Deixou no balneário o inconsistente Edwards, que por vezes parece alheado do jogo, e mandou entrar Morita - regresso aplaudido após longa lesão na sequência do Mundial do Catar, onde esteve em evidência. O japonês deu estabilidade ao meio-campo, onde faz boa parceria com Ugarte. E permitiu libertar Pedro Gonçalves para o lugar onde mais rende: lá na frente.

Sem surpresa, voltou a ser o transmontano a desbloquear o jogo. Mostrando a Paulinho e a Trincão como se faz: recebido mais um centro milimétrico de Porro, meteu-a lá dentro ao primeiro toque, à ponta-de-lança. Estavam decorridos 59 minutos. Podia-se respirar enfim de alívio em Alvalade.

 

Mas não por muito tempo. Porque o segundo golo ia tardando. Paulinho, puxando a culatra atrás, ensaiou um golo artístico. Faltou-lhe apenas o essencial: a pontaria. Seria um grande golo, esse, aos 63'. Se entrasse. O problema é que a bola foi direita ao poste - e voltou a não entrar.

Percebemos que o problema é mesmo grave sempre que o treinador decide mandar sair Trincão. Tinha sucedido isso já aos 56', quando o minhoto deu lugar a Arthur, que mostrou mais acutilância e menos displicência. Substituição que só pecou por tardia: devia ter ocorrido logo ao  intervalo. 

Talvez também por instruções do treinador, a equipa foi cedendo terreno ao Vizela.

Estaríamos já a defender o magro 1-0 quando faltava jogar meia hora? Podia não ser, mas parecia.

 

Foi nesse contexto que surgiu o golo adversário. Com toda a linha defensiva a parar, quando a bola saiu dos pés de um vizelense e foi embater noutro vizelense após ter tabelado de modo fortuito no árbitro. Os nossos detiveram-se, reclamando bola ao solo, esquecendo-se que o jogo só pára quando se ouve o apito. Os adversários prosseguiram e ela lá foi anichar-se nas redes, com Adán batido à queima-roupa.

Instalava-se o nervosismo novamente, em doses reforçadas. Paulinho via amarelo por protestos, a frase «somos sempre roubados» ia sendo proferida nas bancadas. Até que, talvez para contrariar tal convicção de muitos adeptos, conseguimos um penálti mesmo ao cair do pano: um puxão ostensivo à camisola de Coates e um pontapé acima da cintura atingindo Paulinho na cabeça deram origem ao castigo máximo, sancionado pelo vídeo-árbitro.

Rui Costa apitou para a marca dos 11 metros, tal como Artur Soares Dias fizera no domingo anterior, no clássico da Luz.

 

E Porro voltou a ser herói. Foi ele a querer marcar, naquele instante decisivo. Foi ele a arrancar a ferros estes três pontos que nos permitem consolidar o quarto lugar, agora com o Casa Pia um pouco mais distante. Foi ele a tornar possível a nossa primeira vitória de 2023 - após derrota no Funchal e o empate na Luz. Foi ele a demonstrar ser um dos raros heróis leoninos desta triste primeira volta do campeonato.

Foi ele a festejar de modo tão exuberante, voltando-se para os adeptos enquanto levava a mão ao emblema, que fiquei com a convicção de que o teremos entre nós pelo menos até Maio. Que seja assim, desejamos todos. Do mal o menos.

 

Breve análise dos jogadores:

Adán - Podia ter feito melhor no lance do golo? Podia. Mas o remate seco foi disparado tão perto que seria muito difícil travá-lo. De resto, atento e competente entre os postes.

Gonçalo Inácio - Foi um dos que pararam, reclamando bola ao solo, no lance do golo sofrido. Comportamento digno de uma defesa amadora, não profissional. Lamentável.

Coates - Também claudicou naquele momento decisivo, mas destacou-se em cortes e desarmes. Missão de sacrifício nos 10 minutos finais, como ponta-de-lança improvisado.

Matheus Reis - Destacou-se pela positiva num lance crucial: aos 59' foi lá à frente, como um extremo, e cruzou da esquerda para o centro, movimento crucial no nosso primeiro golo.

Porro - De longe o melhor em campo. Uma assistência (já soma onze) e um golo. Além de uma mão-cheia de cruzamentos que outros desperdiçaram. Impossível pedir-lhe mais.

Ugarte - Sólido no meio-campo, vital a estancar movimentos ofensivos do adversário, funcionou muito melhor com Morita do que com Pedro Gonçalves. Só lhe falta golo.

Nuno Santos - Foi pouco exuberante, algo discreto. Tentou a meia-distância aos 22': a bola rasou a barra. Excelente passe vertical aos 27'. Saiu por motivos tácticos aos 87'.

Pedro Gonçalves - É evidente que rende muito mais lá na frente, integrando o trio de avançados, do que no meio-campo. Marcou aos 59'. Isola-se como artilheiro da equipa.

Edwards - Marcou de forma displicente um canto aos 16', como se estivesse a jogar na praia. Falta-lhe intensidade na disputa da bola. Foi substituído ao intervalo, sem surpresa.

Trincão - Ouviu assobios ao falhar o segundo golo cantado, aos 19', optando por um passe ao guarda-redes. Já haviado falhado aos 11'. Saiu sem palmas nem glória aos 56'.

Paulinho - É bom a conquistar penáltis: voltou a acontecer aos 89'. Menos bom a marcar golos. Mandou uma bola ao poste, outra à cara do guarda-redes. Mais um jogo em branco.

Morita - Muito aplaudido, regressou aos 46' após mais de um mês afastado por lesão. Contribuiu para dar consistência ao meio-campo e maior eficácia na ligação ao ataque.

Arthur - Substituiu Trincão aos 56'. Menos apático e perdulário do que o minhoto, é ele a iniciar o nosso primeiro golo num passe a aproveitar bem a desmarcação de Matheus Reis.

Chermiti - Estreia em Alvalade, como jogador da equipa principal, substituiu Pedro Gonçalves aos 77'. Deu algum dinamismo à frente atacante. Parece promissor.

Tanlongo - Outra estreia, esta em absoluto de Leão ao peito. O reforço argentino rendeu Ugarte aos 77'. Parece ter bom toque de bola: passes acertados, denotando visão de jogo.

St. Juste - Substituiu Nuno Santos aos 87' para libertar Coates como avançado improvisado. Tempo insuficiente para mostrar o que vale ou o que não vale. 

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