Os sete pecados de Silas
1
Fez entrar a equipa no estádio de Istambul em pose retraída, apenas para gerir o resultado da primeira mão (3-1) desde o apito inicial. Princípio errado, que transmitiu incentivo e confiança ao adversário: o Basaksehir foi acreditando na possibilidade de virar a eliminatória. E afinal bastaria ao Sporting marcar um golo fora, de preferência no quarto de hora inicial, para rumar com segurança à fase seguinte da Liga Europa.
2
Escalou de forma deficiente o onze titular para este embate na maior cidade turca ao deixar no banco aquele que tinha sido o elemento mais desequilibrador no jogo da primeira mão, votado por unanimidade como melhor em campo nesse desafio: Gonzalo Plata. Em vez de recompensar o jovem equatoriano pelo mérito, manteve-o uma hora sentado no banco de suplentes - emitindo assim outro sinal negativo aos seus pupilos.
3
Demorou imenso tempo a rectificar os erros gritantes de movimentação dos jogadores, que tremiam em cada bola parada, falhavam passes com uma displicência aterradora e se mostravam incapazes de construir um lance ofensivo digno desse nome. A entrada de Plata, significativamente, coincide com o melhor período do Sporting, culminado oito minutos depois, aos 68', com o golo de Vietto - a passe de Acuña, municiado pelo equatoriano - que parecia relançar a eliminatória.
4
Vendo a equipa em vantagem no conjunto das duas partidas, embora a perder 1-2 em Istambul, Silas toma outra decisão errada, como se gritasse aos jogadores que era o momento de se retraírem novamente em campo. A troca de Jovane por Doumbia, aos 73', produziu resultados desastrosos: o Sporting, que pouco antes subira com perigo à baliza adversária, baixou então os braços, abdicando da manobra atacante, quando ainda faltavam 20 minutos.
5
Em consequência desta substituição, fez deslocar Vietto do corredor central para a ala esquerda, onde o argentino rende muito menos, deixando assim de canalizar jogo para Plata e Sporar. A equipa partiu-se e perdeu a fluidez ofensiva que vinha demonstrando nos dez minutos anteriores.
6
Conhecendo a fragilidade da equipa nos lances de bola parada (os quatro golos sofridos neste jogo de má memória resultaram de dois cantos, um livre e um penálti), lembrou-se de fazer uma substituição para queimar tempo no instante mais inoportuno: aos 90', quando o Basaksehir se preparava para cobrar um canto. Esta troca de Wendel por Eduardo desconcentrou os jogadores num momento crucial: daqui nasceu o terceiro golo dos turcos e a consequente meia hora de prolongamento, que terminou como sabemos.
7
Acaba este jogo em que precisávamos de marcar mais um golo com três médios de contenção: Battaglia, Doumbia e Eduardo. Como timoneiro de equipa pequena, com o autocarro estacionado, perante uma banalíssima turma turca sem pedigree europeu. Convém recordar, a propósito, que os adeptos do Sporting pressionaram - com sucesso - Frederico Varandas a despedir José Peseiro porque este treinador punha a equipa a jogar num sistema com duplo pivô. Mal imaginariam muitos deles que, ano e meio depois, passaríamos a actuar com três trincos em vez de dois.