Os nossos jogadores, um a um
Daniel Bragança foi o melhor, Geny foi o pior
Daniel Bragança fez a diferença ao ser lançado em jogo: devia ter entrado mais cedo
Foto: Maurice Van Steen / EPA
Foi o nosso jogo menos conseguido da temporada. Com uma primeira parte marcada por sucessivas perdas de bola, incapacidade de sair com ela dominada da nossa área e quase nula chegada à frente, onde Gyökeres andou quase sempre sozinho, policiado com eficácia por Flamingo - central de 21 anos que certamente daria muito jeito no Sporting.
Houve demasiados erros individuais nesta primeira metade do desafio em Eindhoven, frente ao PSV, na segunda jornada da Liga dos Campeões. Faltava um elemento desequilibrador, que assegurasse a ligação entre linhas: Pedro Gonçalves, lesionado, fez-nos muita falta contra o rolo compressor da equipa holandesa. Que não perde há 42 jogos no seu estádio.
Ao intervalo, 1-0. Era resultado lisonjeiro para o nosso onze, como bem se percebia pela linguagem corporal de Rúben Amorim, inquieto na sua área técnica. O duo centrocampista formado por Morten e Morita não funcionava, Geny estava em noite para esquecer, as vias de acesso à baliza de Benítez permaneciam bloqueadas. Pior: a grave lesão de Diomande, forçado a sair de campo aos 32'.
A segunda parte foi diferente. Bastou trocar uma peça, aos 52', quando Geny cedeu lugar a Daniel Bragança. Passámos a ter um meio-campo a três, o jogo começou a fluir, a bola começou a ser disputada, avançámos uns metros no terreno. Faltava solucionar o mistério das escorregadelas dos nossos jogadores: nunca tinha visto nada assim.
O futebol é jogo colectivo em que as unidades fazem a diferença. Aconteceu, pela positiva, com dois jogadores saídos do banco: Maxi Araújo no transporte pela ala esquerda e cruzamento, Daniel numa execução perfeita: aos 84' surgia o golo do empate. Rúben esteve melhor na mudança das peças do que o seu homólogo do PSG. O desgaste físico penalizou mais a equipa adversária.
Viemos de Eindhoven com um ponto que pode valer ouro. Permanecemos invictos na Liga dos Campeões, após a vitória em casa com o Lille. A estrelinha de Amorim voltou a brilhar: é bom saber que não nos abandona nos maus momentos.
Fica a minha pontuação aos jogadores:
Franco Israel (7). Sem culpa no golo sofrido, logo aos 15'. No minuto anterior, tinha feito uma grande defesa. Voltou a ser crucial aos 73', evitando o segundo do PSV. Sem lapsos nem deslizes. Merece continuar como titular da baliza.
Debast (3). Parece ter dado um passo atrás, voltando à desastrada exibição da Supertaça. Fez um passe de risco, mal medido, que ao ser interceptado nos custou o golo. Repetiu o erro aos 29': felizmente não passou do susto. Entregou aos 43'. Nervos a mais, ao que parece.
Diomande (4). Estava a ser o nosso melhor central, no eixo do bloco defensivo, quando se viu forçado a sair, amparado por dois elementos da equipa técnica, sem conseguir pôr o pé no chão. Parece lesão grave. Aos 29' fez um grande corte.
Gonçalo Inácio (4). Acusou excesso de nervosismo, o que não é inédito em desafios de maior responsabilidade. Entregou a bola em zona proibida aos 14'. De Jong passou por ele à vontade aos 56'. Tentou golo de cabeça após canto (45'+1), sem sucesso.
Quenda (6). Chegou a ser, na primeira parte, o nosso melhor em campo. Muito bem no plano técnico: fez três túneis na ala direita. Ofereceu golo a Daniel (59'). Esteve muito perto de marcar num remate em arco aos 76'. Só pecou por lapsos defensivos.
Morten (4). Quase irreconhecível: não foi presença autoritária, impondo-se nos duelos, ao contrário do que nos habituou. Tentou apagar demasiados fogos, sem pautar o ritmo da equipa. Melhorou ligeiramente na meia hora final.
Morita (6). Distinguiu-se do colega dinamarquês pela sua capacidade de colocar a bola à distância, em passes cruzados. Aconteceu ao oferecê-la a Nuno Santos (29') e Gyökeres (51'). Isolou Eduardo Quaresma aos 71': situação de golo iminente.
Nuno Santos (4). Continua sem fazer uma grande exibição nesta época. Morita isolou-o aos 29', mas ele finalizou muito mal, com um autêntico passe ao guarda-redes. Falhou cruzamento aos 54'. Incapacidade de criar desequilíbrios.
Trincão (5). Muito castigado pelo jogo duro da turma holandesa, que não hesitava em recorrer à falta para travar lances prometedores do Sporting, foi um dos mais inconformados, desenhando lances de bom recorte técnico que acabaram desperdiçados.
Geny (2). Noite para esquecer do moçambicano, um dos que mais escorregaram em Eindhoven. Remetido à posição de interior esquerdo, afastado da linha e de costas para a baliza, foi presa fácil do PSV. Deixou-se antecipar por Schouten no lance do golo.
Gyökeres (4). Cumpriu a partida menos conseguida até agora de Leão ao peito. Culpa da incapacidade dos nossos médios em ligar o jogo e do seu "guarda-costas" Flamingo, que não lhe concedeu margem de manobra. Interveio no golo com pré-assistência lateral para Maxi.
Eduardo Quaresma (5). Rendeu Diomande, como central à direita. Esteve no melhor e no pior. Grandes cortes (dois aos 41', dois aos 78', outro aos 88'). Excelente recuperação seguida de arrancada que o pôs na cara do golo aos 71': escorregou no momento de marcar. Atraso de bola sem nexo que quase nos custou um golo (82').
Daniel Bragança (8). O nosso melhor. Entrou aos 52', substituindo Geny, e actuou como médio ofensivo, trabalhando com eficácia entre linhas. À segunda tentativa, conseguiu: grande golo marcado de pé direito, sem preparação. Valeu-nos o empate. Estreia de grande nível como artilheiro na Liga dos Campeões.
Maxi Araújo (7). Entrou aos 71', para o lugar de Nuno Santos, e logo imprimiu mais velocidade e qualidade à nossa ala esquerda, beneficiando do desgaste do PSV. É dele a assistência para o golo. Luta para ser titular.
Harder (6). Pouco tempo em campo: substituiu Trincão aos 79'. Cheio de vontade de marcar, atirou às malhas laterais. No último lance da partida, aos 90'+3, viu Benítez negar-lhe o golo com enorme defesa.