Os melhores golos do Sporting (39)
Golo de ANTÓNIO OLIVEIRA
Sporting-Dínamo de Zagreb, Taça dos Campeões Europeus (3-0)
29 de Setembro de 1982, Estádio José Alvalade
No dia 29 de setembro de 1982 eu já tinha doze anos e vi o jogador que mais gostei de ver com a nossa camisola a marcar três golos ao Dínamo de Zagreb, numa das mais memoráveis noites europeias da história do Sporting.
No dia em que o seu pai morreu, António Oliveira, nosso jogador e também treinador (!) mete três na baliza do Dínamo. Na baliza estava o nosso futuro guarda-redes Ivcovic, mas essa é a parte que menos importa nesta minha história.
Nós íamos pouco ao futebol, porque era caro e longe e dava pouco jeito, mas a este jogo fomos. As equipas da Cortina de Ferro metiam medo, porque os julgávamos fortes como super homens e era sempre duvidoso que a nossa habilidade latina fosse suficiente. Eram tempos em que o jogador português de 1,80 era considerado um gigante e em que as equipas portuguesas tinham uma preparação física baseada em corridas no pinhal que durava metade de meia época.
O meu pai era da Beira Alta e por alguma razão dizia Uliveira. Nós aqui em Lisboa dizemos Óliveira, mas o meu pai dizia Uliveira, e fazia-o de forma que me divertia, recordo agora.
E gostávamos todos dele, do nosso Oliveira, que vimos a estrear a nossa camisola le Coq Sportif contra o Belenenses de Artur Jorge numa primeira jornada cheia de nevoeiro e frio, naquela época de 81/82, em que fomos campeões. A partir daí, o Uliveira (com Manuel Fernandes e Jordão) passou a ser o nosso jogador favorito.
Um golo do Sporting é uma explosão no coração. Três golos a uma equipa destas, pelo mesmo jogador e esse jogador ser o Uliveira/Oliveira foi inesquecível. Tanto que o escrevo aqui e até me surpreendo que ninguém o tenha feito ainda.
António Oliveira foi um jogador brilhante, um Figo-melhor-que-o-Figo, com feitio complicado e carácter marcado. Estes três golos são todos bons, embora o segundo seja o melhor. Ele avança pelo meio, faz uma tabela, tira um central da frente e remata mesmo antes do guarda-redes chegar a ele. Foi neste jogo que a frase “por cada leão que cair, outro se levantará” nasceu e este texto do Rui Tovar júnior explica isso melhor http://ionline.pt/413551?source=social.
Por falar nisso, há pouco tempo também descobri que é Rui Tuvar e não Rui Tóvar como creio que toda a gente diz. E aproveito para perguntar, afinal será Oliveira ou Uliveira?
Não sei, sei que o pai de António Oliveira morreu naquele dia e o meu morreria menos de dez anos depois. E que o pai do Rui, um grande sportinguista que aqui homenageio, também já se foi. Fica a nota e fica o golo, porque a vida só faz sentido com gratidão. Gratidão ao meu pai por ter feito sportinguista e, claro, aos grandes golos que me levou a ver com a camisola do Sporting, como estes três. E ao Oliveira - já agora, um nome que os meus filhos têm porque a mãe não lhes deu só a teimosia e o cabelo forte.
p.s. a placa com a frase que está no nosso estádio é de Maio (e reporta-se a algo que Oliveira disse a propósito de estar lesionado) e este jogo, lembro, foi em Setembro. Há muito poucas ocasiões em que a ficção faz mais sentido que a realidade. Esta é uma delas.