Os melhores golos do Sporting (13)
Golo de ISLAM SLIMANI
Sporting – SC Braga (Final da Taça de Portugal)
31-5-2015, Estádio do Jamor.
O golo é uma manifestação de alegria, conquista, mas por vezes também de raiva e injustiça. O golo é como uma casa de espelhos, onde mil e uma imagens nossas são projectadas, no reflexo de uma cadeira de estádio, de um sofá em casa ou de uma simples cadeira de café rodeada de fumaça e imperiais. Os golos não vivem apenas da nota artística dos executantes, mas das circunstâncias da nossa vida, dos nosso traços de personalidade e muitas, mas muitas vezes dos momentos de forma da nossa equipa. Fui-me apercebendo disso, um pouco inconscientemente, ao longo destes anos como adepto deste nosso grande clube. Por isso quando esta série foi lançada, à mesa do Império, pensei em dois ou três golos marcantes, e depois... pensei na circunstância. E como o ponta-de-lança que aproveita o passe a rasgar a defesa, a abertura de espaço entre os centrais ou o timing perfeito no salto, após uma pincelada milimétrica do artista na ala: o golo é circunstância, para quem marca e para quem festeja.
Durante a época 2014/2015 não tive a oportunidade de ver e celebrar muitos dos golos do Sporting. Não estava em casa. Distante, algures no hemisfério sul. Longe de duas famílias. Uma delas, está claro, o Sporting. O streaming e os bares não ajudavam, um pelo fraco sinal e outros pelo fraco gosto na transmissão de jogos de outros países. Lembro-me ser duro não poder comentar um jogo com o meu avô, com o meu irmão, chegar a casa e contar aos meus pais os detalhes, os pormenores de cada jogo. Contudo, no dia anterior ao final da Taça decidimos, eu mais uns amigos, infiltrar a casa de uns lampiões (tinham a melhor televisão) e tentar o streaming (fomos Inácios com todo o gosto). Patuscada combinada, e lá estávamos no outro dia ostentando a verde-e-branco de Leão rampante! Éramos três, rodeados de pessoas com alguma falta de gosto. Mas o Sporting é isto: contra tudo e contra todos, nós fazemos a festa verde.
O streaming estava bom, os petiscos e a “gelada" melhores ainda, até que o árbitro decidiu provocar uma pequena congestão, não com o penálti assinalado prematuramente, mas com o excesso de punição sobre Cédric. A insolação fez o “juiz” da partida ver, no que seria amarelo, um cartão da cor da equipa adversária do Sporting – vá-se lá perceber a mente humana. Agarrámos os cachecóis com mais força, e o Rafa lembrou-se de fazer um segundo para o Braga. Chegou o intervalo, havia rostos desolados no lado verde e troça nas palavras dos anfitriões. Sentámo-nos para a segunda parte. Pedi aos Deuses do Futebol - aquele quinteto maravilha da música, os Violinos do Olimpo - que dessem um empurrãozinho aos nossos rapazes...
Não sei se ouviram as minhas preces, mas ao minuto 83 (segundo 16) surgiu o sinal, a reviravolta. Um passe monumental da defesa, em chuveirinho, para a área adversária, mau alívio do defesa do Braga, e o messias desta reviravolta, o Príncipe do Magreb, o Leão Argelino, recebe a bola, simula, faz com que dois defesas saiam da sua frente chocando um no outro, puxa o pé direito atrás e chuta....
Todos vimos aquela bola a rolar devagarinho para o canto inferior esquerdo, pareceu uma eternidade, parecia que o guarda-redes ia apanhá-la. Mas o Slimani sabia que ela só ia parar no seu destino: as redes do Jamor. Tinha-lhe fadado o destino com o pé direito. Tinha assinado a reviravolta e assassinado a crença daquela filial perdida a norte. Celebrei euforicamente, não tinha ganho nada – ainda – mas tinha visto o meu Sporting ressuscitar. O Slimani foi ao submundo resgatar esta alma perdida como se de uma encarnação de Orfeu se tratasse.
E com este golo soube que há golos que trazem as vitórias consigo, e que há golos que têm a força de unir ainda mais esta família, afastando dela os parentes de cativo que são peso morto de corpo presente. Porque os verdadeiros Leões acreditam até ao fim, porque a União faz todo o Esforço, Dedicação e Devoção valerem cada segundo da Glória.