Os lamentos de Rúben
Naquela noite de 12 de Abril, uma semana depois das calamidades no relvado e no Facebook que marcaram a visita ao Atlético de Madrid, o caldo verde e branco estaria irremediavelmente entornado?
Cheguei a crer que não, mesmo sem poder estar em Alvalade - acreditei até às sete e pouco que conseguiria acabar aquilo que tinha em mãos a tempo, mas optei pelo realismo e emprestei a gamebox a uma colega de redacção. Montero marcou cedo, redimindo-se do tardio falhanço em Madrid que teria minorado os erros de Mathieu e de Coates, e bastava outro golo para levar o acesso às meias-finais da Liga Europa para uma decisão através de grandes penalidades que permitiria a Rui Patrício amargar Griezmann, ao melhor estilo da final do Europeu de 2016.
Só que a rapaziada perdeu o fôlego, o intervalo nada melhorou, os minutos esgotaram-se, e Jorge Jesus olhou para o banco, fazendo entrar o irreverente júnior Elves Baldé para o lugar de Bryan Ruiz... Mas não, não foi assim que aconteceu. Quem entrou em campo, aos fatídicos 70 minutos de jogo, foi Rúben Ribeiro, que nada acrescentou à modorra que ainda assim permitiu a única vitória caseira da temporada (até àquela data, pois ainda foi possível derrotar o FC Porto na segunda mão da meia-final da Taça de Portugal, obtendo nos pénaltis o infausto salvo-conduto para o Jamor) do Sporting contra os muitos tubarões que o visitaram.
Temo ser injusto, mas a entrada de Rúben Ribeiro naquela altura daquele jogo foi terrivelmente simbólica por tudo o que representou de previsível no esgotado consulado de Jorge Jesus. Nunca saberemos se Elves Baldé teria o desplante e a destreza para dinamitar a defesa do Atlético de Madrid, mas já o extremo contratado no mercado de Inverno ao Rio Ave foi igual a si próprio: para mal dele, e para mal do clube, demasiado pequeno para o Sporting.
Na entrevista exclusiva hoje publicada pelo ‘Record’, aquele que terá sido o único jogador do anterior plantel a alegrar a maioria dos adeptos ao avançar para a rescisão, alegando justa causa, lamentou-se por não poder jogar, tal como se lamentou por a comissão de gestão e pelos novos dirigentes terem exigido um ou mais milhões pelo seu passe a clubes interessados em contar consigo. E por terem travado a disponibilidade que demonstrou de regressar ao Sporting, seguindo os passos de Bas Dost, Bruno Fernandes e Battaglia...
Quanto à tristeza de Rúben Ribeiro por não estar a fazer aquilo de que gosta, e que é a sua profissão, compreendo-a - por mais do que um motivo. Mas nem assim admito voltar a vê-lo de leão ao peito, nem desejo que o clube abdique de ser devidamente ressarcido pelo investimento que fez neste futebolista, a quem desejo, sinceramente, o melhor futuro possível. Bem longe de Alvalade.