Os jarretas (antologia 2013/14, parte III)
- Este Natal, para nós, vai ser bastante mais doce. Este prazer já ninguém nos tira.
- Deixa-te de lirismos. O plantel é curto e há casos por resolver. Isso preocupa-me.
- Que casos?
- O Labyad. O rapaz é um talento. Muito melhor do que alguns que têm sido titulares. Só não joga porque o Bruno o detesta.
- Nada disso. Não joga por opção técnica. É caro de mais e nunca fez nada de jeito no Sporting. Além disso iria perturbar um grupo de trabalho que é muito coeso e solidário.
- Vocês ainda hão-de arrepender-se por desprezarem assim o Labyad. Ele é craque, tem futuro.
- Já vi que nada te satisfaz. Por melhor que o Sporting se mostre e por mais resultados que consiga, nunca estás satisfeito.
- Eu percebo muito melhor estas coisas do que tu. A prestação da equipa contra o Belenenses foi medíocre. A vitória só aconteceu por sorte e porque o árbitro ajudou. Além disso ainda não começou a chover a sério. Deixa vir a chuva e vais ver se a equipa não começa a desmoronar-se como um castelo de cartas.
- Já pareces o Joaquim Rita a falar. Estás aqui estás a estrear-te como comentador de bola na SIC Notícias. Ou, pelo menos, como apresentador do boletim meteorológico.
- SIC Notícias? Nem pensar... é encarnada de mais para o meu gosto. Mas não me importava de ser comentador do Porto Canal. Nada tenho contra o azul.
(...)
- Tu já te esqueceste do que dizias no início da época? Em Agosto, querias trocar o Montero pelo Ghilas. Em Setembro, vaticinavas que íamos perder jogos atrás de jogos. Em Outubro, garantias que tínhamos o plantel mais fraco dos últimos vinte anos...
- E andei sempre mais próximo da verdade do que tu: nunca me deixei embriagar pela pandilha brunista.
- Tu deixas-te embriagar por quê?
- Por Vinho do Porto. Não há nada melhor.
(...)
- Gostaste do jogo?
- Nem pensar. Achei péssimo, como aliás já esperava. Mas vinguei-me.
- Como?
- Assobiei a equipa. Foi um assobio arrancado cá do fundo da alma. Fez-me bem à enxaqueca e à neurastenia. Consegui estar dois dias sem tomar Lexotan.
- Assobiaste quem?
- Todos. Jogadores, Bruno, Inácio. Até assobiei o Paulinho. Com todas as ganas de que fui capaz.
(...)
- Podes continuar a bater no presidente à vontade.
- Mas para dizer o quê?
- Critica a gestão desportiva, pá.
- Mas como é que eu critico se a gestão desportiva está a ter sucesso?
- Bolas! Critica a gestão financeira.
- É difícil. A gestão financeira também está a resultar, pá.
- Então critica a voz do gajo. A gravata. A postura. Sei lá. Nós podemos não saber porque é que lhe batemos mas ele sabe sempre porque é que apanha!