Os árbitros também vêem programas de bola.
Que os nossos árbitros, observadores e dirigentes são permeáveis à pressão todos sabemos. Aliás considero que o principal primeiro mérito de Bruno de Carvalho foi ter percebido que a casa, qualquer que fosse, se tinha de começar a construir por aí, pela paridade do tratamento por parte dos árbitros. E conseguiu-o. Ninguém é campeão com a arbitragem a decidir contra nós em caso de dúvida. Formação, trutas no mercado, adeptos a encher o estádio não será suficiente se tivermos um árbitro que nos marca offsides, dá amarelos a eito e anula golos só porque tem medo do que lhe vão dizer os “observadores”.
É da vida que os mais fortes são mais favorecidos em processos conscientes e subconscientes por parte dos decisores. Basta ver como o BES construiu um império apoiado em nada nas barbas de reguladores e políticos. Prova que o SCP é considerado mais forte é estarmos a ter arbitragens que decidem a nosso favor em caso de dúvida. É claro que o Sporting teve quatro jogos até agora onde foi superior. Mas não tenho dúvida que noutros tempos os golos contra o Porto não teriam sido validados, nem este primeiro contra o Moreirense. Os lances são limpos e respeitam o espírito não escrito do “em caso de dúvida favoreça-se quem ataca”, mas são suficientemente rápidos para serem ambíguos, logo para que árbitros que cheirem a fraqueza do clube os pudessem ter anulado.
Tenho memória de épocas atrás de épocas de equipas fortes de verde e branco, que foram derrotadas por estes imponderáveis arbitrais que foram comendo pontinho atrás de pontinho, até que ficávamos a seis ou sete ao fim da primeira volta, com toda a desmotivação que isso implicou. Jornalistas e comentadores concluem logo que a época tinha sido mal preparada e mais não sei o quê, mas queria vê-los a ganhar a guerra das tiragens ou das audiências se houvesse um gremlin que domingo a domingo lhes sabotasse a gráfica ou desligasse os cabos da emissão “sem querer” – e vissem em simultâneo que nada disso acontecia aos seus concorrentes.
Por vezes fazemos tudo bem, mas somos vergados pelo factor exógeno, seja a ambiguidade da arbitragem, seja um aumento de impostos, seja um congelamento de rendas, o que for. Repetir que ganha o campeonato quem é mais forte etc é bordão que dá jeito mas que me dá alguma vontade de rir. Porque só ganha o campeonato quem é mais forte no campo e é ao mesmo tempo respeitado em campo pela arbitragem. Ou, vá lá, não prejudicado em caso de dúvida. Cautela com o excesso de ruído a propósito dos nossos putativos ‘benefícios’, muita cautela. Pelo tom nos programas de futebol sentado é evidente que os representantes de SLB e FCP consideram o SCP o alvo a abater. Não menosprezar esta retórica é da mais elementar cautela. Os árbitros também vêem programas de bola.