Operário e futebolista assassinado pela própria mãe
Hoje, dia 1 de Maio, celebra-se o dia do trabalhador.
Há um sinónimo de trabalhador que me interessa, especialmente, operário (do latim operor; trabalhar, ser eficaz, produzir).
A imagem que ilustra este texto foi obtida hoje perto do Largo da Princesa, Belém, um espaço geográfico que os pés descalços de José conheceriam.
Um operário vestido de azul ganga durante a semana e vestido de azul com a cruz de Cristo no domingo.
Estreou-se na equipa principal do Belenenses num jogo contra o Benfica com apenas 16 anos recentemente completados. A quinze minutos do final o Belenenses perdia por 4-1, mas, a equipa deu a volta ao resultado e venceu por 5-4. José Manuel Soares tornou-se de um dia para o outro um ídolo popular.
Entre 1926 e 1931, transformou-se na maior estrela do futebol português do seu tempo. Avançado felino, tem o recorde de golos num só jogo - 10 ao Bom Sucesso - e quando se estreou pela selecção portuguesa com dois golos à França, com meros 18 anos, "foi o delírio" nas "ruas mais pobres de Belém", como lemos em A História do Futebol em Lisboa: "representava a alma do Bairro, o seu orgulho e a sua vaidade." O momento de maior glória chegaria com a participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de 1928.
No dia do primeiro jogo, com o Chile, uma multidão encheu as ruas no centro de Lisboa, lendo as edições especiais dos jornais, ou observando o painel no Rossio onde a partida foi acompanhada num directo pré-televisão, com um homem, em contacto com Amesterdão, assinalando com um íman e com a precisão possível os avanços e recuos da bola no campo.
Portugal vence 4-2, ele marca e é decisivo nessa e na vitória seguinte, frente à Jugoslávia. A contestada derrota com o Egipto no terceiro jogo [um golo invalidado a Portugal] não maculou em nada o seu prestígio, estrela maior do futebol de então; nos campos era um ídolo, fora dele, um simples operário no Centro de Aviação Naval do Bom Sucesso.
Como depreendemos pelo título foi a mãe que o matou, num dia de infelicidade, a solidariedade da bairro operário em que viviam (é interessante pensarmos em Belém como um bairro operário) funcionou e a pobre senhora que, apenas, trocara o sal por soda caústica* para fazer uma sopa, nunca foi acusada de nada embora os vizinhos soubessem o que acontecera.
Chamava-se José, passou para a posteridade como Pepe, um operário que morreu por comer sopa.
*a soda caústica era utilizada em conjunto com areia para "arear" tachos e panelas, é muito semelhante ao sal e a sua ingestão é mortal.
Bibliografia: https://www.publico.pt/2011/08/28/jornal/dois-bairros-e-uma-bola-uma-historia-de-futebol-22756853
http://blogoexisto.blogspot.com/2006/10/lenda-do-pepe.html