Onde está o Benfica?
Há 23 anos uma família perdeu, de modo absurdamente trágico, um dos seus mais queridos. Era adepto do Sporting, num campo de futebol, e morreu devido a um acto bárbaro mas também estúpido de adeptos do Benfica. Ao longo dos anos - e mesmo neste último Sporting-Benfica - o acto, o disparo da munição assassina, é constantemente glosado pelas claques benfiquistas. Com toda a certeza fazendo avivar a dor da família. Um festejar da morte que também passa por estas regulares pinturas, como agora, mais uma vez aconteceu em Sintra.
Isto não é o Benfica, não representa a massa enorme de sócios e adeptos, ou as pequenas franjas dos seus dirigentes. Mas é um sentir de parcelas dos seus adeptos, das suas claques. Gente cruel, de modo hediondo recusando dar paz a uma família, recusando-lhe o término do seu luto. 23 anos depois.
O que se me escapa, porventura não terei atentado mas julgo que não estarei assim tão distraído, são os actos de pedagogia das direcções do Benfica, de veemente condenação a todas estas práticas, irónicas, festivas, provocatórias, das claques ou adeptos avulsos. Em particular as direcções de Luís Filipe Vieira, pois eleito presidente do Benfica em 3 de Novembro de 2003, há já quinze anos, tempo suficiente para marcar a mentalidade clubística, mesma das suas margens mais agressivas. Que vigorosos actos, enfáticas declarações, teve o Benfica para condenar os seus adeptos que prosseguem sob esta mentalidade holiganesca (como o Sporting também tem, e outros clubes), que se dedicam a estas vergonhosas atitudes? Alguém tem registo disso? É que quem cala - e, neste horrível caso, mesmo quem apenas sussurra - consente.
E isto não tem nada a ver com Benfica ou Sporting ou outros. Nem com taças, trafulhices de árbitros, e-toupeiras, cashballs, apitos dourados. Tem apenas a ver com humanidade. Neste caso, com um enorme défice dela. Um défice institucional, parece-me. E esse défice, esse, já respinga sobre toda a massa adepta daquele clube. Uma vergonha.