O queixinhas
Lembram-se do tempo em que Bruno de Carvalho pedia solenemente aos adeptos do Sporting para deixarem de ver televisão e de ler jornais? Pois ele, que diz seja o que for para se tornar notícia e faz quase sempre o contrário do que diz, é incapaz de passar um dia sem dar entrevistas a esses mesmos jornais e a essas mesmas televisões.
Li penosamente a mais recente, impressa na edição de ontem do Record, iniciada com estas linhas laudatórias dos jornalistas que conduziram a conversa: «Igual a ele próprio! Frontal, contundente e sem medo de uma boa refrega.»
Questiono-me até se no final da entrevista não lhe terão pedido um autógrafo...
O que afirma nesta cavaqueira o presidente destituído - e agora suspenso por um ano de associado do Sporting?
Mais do mesmo: não assume um erro (nem sequer a prosa miserável que publicou no facebook rebaixando os jogadores, logo após o jogo em Madrid contra o Atlético, futuro vencedor da Liga Europa). Não faz um mea culpa.
Lança lama sobre as pessoas que escolheu e aceitaram trabalhar com ele (vice-presidentes, presidente da Mesa da Assembleia Geral, treinador, director clínico), faz insinuações rasteiras a torto e direito, enche a entrevista com frases do habitual rancor azedo, próprio de quem está de mal com o mundo.
Vive numa espécie de realidade paralela, alimentando-se da sua delirante megalomania e de inifinitas teorias da conspiração. Imagina-se um estadista mas só tem conversa de porteira - sem desprimor para as porteiras.
São, bem ao seu estilo, declarações de um queixinhas.
Faz a todo o tempo juízos de (mau) carácter sobre ex-colaboradores directos e gente que integrou a sua comissão de honra e até foi convidada para o seu badalado casamento no Mosteiro dos Jerónimos, coincidente com o Dia do Clube.
Garante que só ele soube exercer o poder no Sporting mas, relativamente a tudo quanto ocorreu de mal, aponta a responsabilidade sempre para terceiros. Deixando-nos definitivamente esclarecidos quanto a falhas de carácter.
Transcrevo aqui algumas dessas frases, para registo futuro. E para que os últimos cépticos percebam, já hoje, como o sucessor de Godinho Lopes é incapaz de aprender com os erros cometidos - pelo contrário, insiste neles, contra todas as evidências, até a última gota do limão ficar espremida.
Sobre Sobrinho e Ricciardi:
«Álvaro Sobrinho e José Maria Ricciardi estão por detrás de todas as candidaturas, menos da minha.»
«Ricciardi é um cobarde.»
Sobre Frederico Varandas:
«O Varandas sabia que eu tinha um lombalgia. Deixou-me sozinho quando estava a sofrer desde os 72'. Estavam 4 graus e a lombalgia agravou com o frio.»
«O que eu ouvi da parte de Varandas sobre Jesus... Uma pessoa que me andava há dois anos a dizer cobras e lagartos do Jorge agora tem-no na comissão de honra. Vale a pena ser hipócrita neste país.»
Sobre Jaime Soares:
«Ao Jaime [Marta Soares] não lhe atribuo valor.»
«Diz que Jaime Marta Soares era amigo de Luís Filipe Vieira. Era? Mas algum deles faleceu? Digo-lhe que é.»
Sobre Cintra e Torres Pereira:
«Lamento que um presidente da SAD [Sousa Cintra] esteja numa conferência de imprensa a ser mandado calar com palmadinhas na mão por um indivíduo que sempre considerei um inútil, que é Torres Pereira [ex-vice de Bruno de Carvalho e actual líder do clube].»
«Há um treinador [Mihajlovic] que foi despedido sem justa causa, por email. Isto foi, mais uma vez, "à Sousa Cintra". No passado, pegou no microfone do comandante do avião e logo ali despachou Bobby Robson. Agora, achou que era por email.»
Sobre Jorge Jesus:
«Só uma vez é que as claques foram à Academia, em 2016. Eu proibi-os, e ficaram à porta. Depois, o Jesus passou de carro e convidou-os a entrar. Ele pediu-me desculpa e eu disse-lhe que não era ele que decidia, era eu.»
«Acho lamentável que se tenham aproveitado do treinador. Quando ele vai à final da Taça de Portugal promove um almoço com centenas de pessoas. Nesse dia, o motorista de Ricciardi andou a recolher assinaturas para a minha destituição. Não é normal.»
Sobre Carlos Vieira:
«Quem coordenou com o Conselho Fiscal e Disciplinar a alteração dos estatutos e do regulamento disciplinar foi o Carlos Vieira... Foi brilhante, a táctica de todos eles!»
«Houve um primeiro relatório [sobre o assalto a Alcochete] que não me agradou, fiz mais perguntas, e estava à espera que o responsável da administração que tinha o pelouro da segurança, que se chama Carlos Vieira, me desse a resposta.»