O que resta
1. As notícias de hoje, sobre a troca de mensagens telefónicas entre o antigo presidente Bruno de Carvalho e André Geraldes, sublinham o que sempre foi mais do que óbvio, a responsabilidade efectiva da direcção do clube nos inaceitáveis acontecimentos de Alcochete. Quem acompanha minimamente a vida do clube cedo se apercebeu disso. Lembro uma confrontação entre jogadores e presidente, aqueles a acusarem-no de acicatar as claques e este a telefonar ao líder de uma claque, o famigerado "Mustafa", e colocá-lo em alto-falante diante do plantel. Isto tem algum cabimento? Ou as declarações de Bruno de Carvalho aos jogadores após o jogo do Funchal, ao qual não foi para marcar a distância em relação à equipa: "arranjaste-me um problema, tenho o lider da claque a telefonar-me durante a noite a pedir a tua morada" - sem que BdC chamasse a polícia, note-se, diante dessa evidente ameaça à integridade dos jogadores e suas famílias. O grau de intimidade do presidente com estes grupos de anti-sociais, marginais era, só por si, inaceitável. A sua utilização para pressionar jogadores é um crime. Os jogadores (pres)sentiam-no e denunciavam-no. Tudo isto deu no que deu, as vis agressões, a mácula reputacional, os prejuízos patrimoniais. Como diz Roquette na entrevista que deu a um diário desportivo, no dia do ataque a Alcochete, estavam os jogadores e técnicos na esquadra e BdC foi para o ... jantar do grupo Stromp! Uma crise daquelas e BdC foi banquetear-se com os notáveis. E depois os outros é que são ... croquettes ...
2. Os candidatos pululam. Nem um deles aborda aquilo que num país decente se exigiria a uma associação desportiva tão protegida pelo Estado como o Sporting Clube de Portugal tem sido ao longo do seu século: que vai fazer das claques, dos imundos neo-nazis, fascistas, marginais, que se organizam em torno do clube? A questão é velha, sempre silenciada. Chegou onde chegou, neste contexto da sua utilização, de óbvia corrupção da direcção, de criminalização da administração do clube. Reacção dos candidatos? Assobiar para o lado. De facto a questão não é se o prestigiado responsável do futsal terá mais responsabilidades ou se haverá mais campos para formação no futebol. A questão é se os bancos a quem o Estado (o dinheiro de todos os portugueses) suporta continuarão a fazer inaceitáveis perdões de dívida ao clube. E se o clube continuará a alimentar - através de dinheiro que o Estado lhe dá, directa e indirectamente - grupos de marginais e de nazis. Estas são as questões cruciais que a sociedade portuguesa deveria colocar a uma entidade da dimensão do SCP. E as questões fundamentais que 65% dos sportinguistas deveriam colocar a si mesmos. Pois os outros 35% são adeptos disto. São isto.
3. As notícias vão mostrando o que foi o passado recente: o Sporting financiou - à imagem do que os partidos políticos vêm fazendo - uma barreira de contra-informação na internet (blogs anónimos, perfis de facebook, comentadores, etc.) Para além de uma escória de gente que aparece por aí (quem é aquele Pedro Proença, de onde saiu, que prestígio tem, a que propósito tem o eco que tem?). Nada que quem bloga não tenha percebido, e há muito: basta ver os patéticos comentários neste blog, a série de "anónimos" - tantos com os mesmos tiques de escrita, obviamente emanados do mesmo teclado, ou seja, um anónimo activista. Isto é democraticamente inaceitável. Reacção dos candidatos, principalmente dos vários que estiveram nesta presidência finda e que desta abjecção tinham, evidentemente, conhecimento (Carvalho, Varandas, Vieira)? Silêncio.
4. José Quintela candidata-se na lista dos restos do brunismo, a patética deriva de Vieira, e diz-se orgulhoso do que fez. Quintela teve responsabilidades na comunicação associativa - e convirá lembrar o estado em que televisão e jornal do Sporting estiveram, o vil seguidismo à presidência, a mais abjecta e imoral ausência de democraticidade, no meio desta imunda trapalhada acontecidade. E com toda a certeza que soube dessa vil campanha de contra-informação, de financiamento de falsidades. E é desta mentalidade e desta prática que esta gente se orgulha. Quando alguém, como ele, diz que "tem vida" externa ao clube, à qual pode voltar conviria lembrar - voltará à vida com o ónus das vilanias que cometeu.
Convirá perceber o que resta destes últimos meses. Que se olharmos para uma bancada de adeptos 35% deles, 3 ou 4 entre 10 que levam o cachecol, são apoiantes disto, são isto. O clube pode estar com grandes dificuldades económicas e financeiras, há até quem diga que está (mais ou menos) falido. Mas, de facto, o "universo Sporting" está falido é moralmente. Quanto 35% de si é este imundo lamaçal. E os outros 65% assobiam para o lado e falam de novos campos para a Academia e de quem vai gerir as "modalidades" ou se Peseiro é ou não o homem. O que resta? Restarão as metástases deste horroroso tumor, deste cancro moral de que o clube padece. Mortal? Com "médicos" destes é quase certo que o será. E não me refiro especificamente a Varandas, que fique explícito.