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És a nossa Fé!

O que poderiam ter feito com as Gamebox 2019/2020 - um exemplo

Exponho neste artigo aquuele que é um de muitos exemplos do que poderia ter sido feito se se tivesse usado de um pouco mais de bom senso e de pensamento prospetivo, indo além de objetivos de curtíssimo prazo de resultados duvidoso com a Gamebox 2019/2020.

Imaginemos que a direção do Sporting concluiu que era imperativo acabar com a Gamebox (GB) de preço único para as crianças até 11 anos. É uma opção legítima sendo que por esse mundo fora há exemplos a favor e contra essa opção.

Os nossos vizinhos da 2ª circular têm preços diferentes, os nossos futuros adversários do Liverpool têm preços fixos (inferiores ao preço mais alto que iremos praticar). Como disse, a opção é legítima e poderá haver boas razões que justifiquem a mudança. Alguma procura superior à oferta em alguns sectores pontuais do estádio, algum abuso das GB de criança por parte de adultos que compram para os filhos mas que depois são eles a usar (por manifesta incapacidade de controlo por parte do clube). Talvez haja até outras razões que me ultrapassam e que ainda não vi explicadas em lado nenhum. Razões que ainda assim nunca devem justificar soluções globais para problemas pontuais, diria eu. Mas avancemos com estes pressupostos.

O que sei é que num inquérito recente feito pelo próprio clube a alguns adeptos com GB, ficou patente que o clube tinha perfeita noção de parte dos riscos que esta alteração significativa poderia implicar.

Uma parte significativa do inquérito, além de testar reações aos preços, visava inquirir sobre formas de discriminar positivamente quem trouxesse a família para o estádio, quem trouxesse novas Gamebox, quem tivesse uma relação mais profunda com o clube ao nível das compras de merchadising e da prática desportiva. Havia até espaço para recolha de sugestões. Mas havia também alguma rigidez implícita nas opções quanto aos preços.

As opções críticas pareciam já estar tomadas (grande aumento dos preços para crianças e para alguns sectores), o que se media eram variações marginais.

Face ao que veio a acontecer, concluo que a opção tomada fez-se de forma consciente quanto ao risco de ostracizar precisamente quem tem uma relação mais profunda com o clube, de desprezar qualquer esforço significativo de discriminação positiva às famílias e a quem garante vendas significativas de GB ou a quem tem a tal relação até economicamente mais expressiva com o clube.

Mas seria mesmo necessário aumentar os preços da GB das crianças para mais do dobro num único ano para cumprir com os objetivos de modar de paradigma?

Seria mesmo necessário ocorrer o risco de o clube ser visto como estando empenhado em expulsar as crianças e/ou estar a querer explorar ao máximo quem quer ser fiel ao lema de Geração em Geração passando da venda à extorsão (como disse, os aumentos superam os 100%, mais do dobro na generalidade dos lugares, com exceção de um único sector em 36)?

Se tudo correr pelo melhor nesta estratégia qual é o ganho máximo que se espera?

Compensa o risco de se perderem mais alguns milhares de GB em vendas este ano?

Compensa o risco de se afastarem mais uns quantos futuros adultos da vivência do clube quando as vendas de GB têm estado em queda e não propriamente fulgurantes?

As perguntas são retóricas e já sabem o que penso (ver o artigo "Este ano são menos três Gamebox"), mas não fiquemos por aí. O que se poderia ter feito para manter a estratégia e não hostilizar os sócios e, provavelmente, conseguir garantir com mais segurança o sucesso da iniciativa e ainda assim diminuir os riscos?

Eis algumas ideias simples que me parecem do mais elementar bom senso e que, creio, poderiam acabar por garantir um encaixe tão bom ou melhor e garantir também um estádio mais cheio e até mais receitas correlacionadas (ninguém gasta mais num jogo do que uma família com filhos…) por mais cerveja com álcool que se pudesse vender (e não pode, nem poderá)...

  1. Anunciar que o Sporting Clube de Portugal ia alterar a política de preço único para crianças no Estádio antes de que se começassem a receber cartas de renovação em casa;
  2. Anunciar que em dois anos os preços de crianças no estádio iriam atingir os 50% do preço de adulto do respetivo setor garantindo aumentos mais suaves e menos escandalosos;
  3. Anunciar que, com isso, o aumento máximo do preço de criança iria ser de €66 e não de €132 como está a acontecer e que os aumentos relativos nunca atingiriam os 100% mas apenas metade disso como está a acontecer;
  4. Anunciar que se pretendia, a prazo, alterar os preços relativos entre sectores no estádio mas que não se iria criar qualquer diferenciação adicional de preços nos sectores do Estádio enquanto se estivesse a implementar esta alteração de paradigma nos bilhetes dos sub-11, ou seja, todos os preços aumentariam na mesma proporção nestes próximos dois anos, exceto os de criança (há setores onde há aumentos de quase 18% para adulto + €54 e +€45 por GB e nas outras categorias além de criança);
  5. Anunciar que as GB de menores de idade quando adquiridas no âmbito da GB Familiar terão preço de criança, subindo a fasquia dos 11 anos para os 17 (alinhando com o que se passa no SLB). Haveria assim algo de concreto no espírito de Geração em Geração além de um aumento dos preços;
  6. Anunciar que sócios que tenham na sua família (uma definição e informação que já existe junto do Sporting) 3, 4 ou mais GB têm direito a incentivos especiais (sejam descontos no valor da GB, sejam outras vantagens junto do merchandinsing, convites adicionais, etc). Haveria assim algo de concreto no espírito de Geração em Geração além de um aumento dos preços;
  7. Anunciar que sócios praticantes de modalidades terão direito a condições especiais na compra da GB fomentando assim o espírito de lealdade e reconhecimento por parte do clube e fidelizando os adeptos – o mesmo para as GB modalidades.
  8. Na época de 2021/2022, já com a transição completa na GB criança, proceder à alteração de preços de alguns sectores que o Sporting quer encarecer acima dos valores de aumento anual que tem praticado.

Não concordo com a subida generalizada de preços que infelizmente não tem sido feita com respaldo no sucesso desportivo que todos quereríamos e que parece imune ao desempenho desportivo e à oferta que há em cada ano, a verdade é que, pelo menos nos últimos 10 anos, os preços têm subido muito acima do custo de vida. Neste período a inflação foi quase nula e assim continuará nos próximos anos.

Mesmo um aumento de 4% é significativo. O que dizer de 18% ou de 103%...

Os ganhos serão sempre marginais (se não forem mesmo perdas líquidas) e o afastamento do estádio por razões económicas será cada vez mais uma realidade. Mas, ainda assim esta outra forma de fazer as coisas que sugiro como mero exemplo, muito colada ao que me parecem os objetivos da direção com a GB 2019/2020, seria muito mais razoável.

Desfasaria o objetivo em dois anos mas teria a bondade de não ser tão escandalosa e de não violar as promessas e o discurso feito em campanha. E fomentaria o espírito de Geração em Geração assumindo que um dependente a cargo não deixa de o ser aos 11 anos como sucede hoje, por exemplo, com as crianças do sexo feminino que pagam preço de adulto desde o 12 anos (mulher). Aposto até que garantiria um casa mais cheia, por oferecer algo em troca a muitos dos que seriam afetados.

Agora o mal está feito e de tão incompreensível e tão mal gerido que não pode ser silenciado.

Acresce que sucede na mesma conjuntura em que os preços cobrados em várias modalidades estão a aumentar significativamente e em que os descontos até aqui existentes para famílias estão a ser cortados.

Não sei se há consciência de que uma parte significativa dos visados são exatamente os mesmos que assistem a um pedido de renovação de GB a preços estratosféricos.

Se houve essa consciência então a gestão é danosa dos interesses do clube pois não é defensável que este grupo (sócios com filhos praticantes) possa ser alvo num clube que quer ter futuro.

Se não é consciente então algo tem que mudar na capacidade de articulação interna da gestão do clube.

Falta uma visão do todo e uma capacidade de escrutinar o impacto de cada medida tomada sectorialmente naquilo que é a relação com os associados.

Gerir uma organização como o Sporting não é certamente pera doce nem nunca será. O atraso ao nível organizacional e o amadorismo herdados são conhecidos por quem é capaz de ser minimamente justo (e não vem sequer apenas da direção anterior) mas essa é a tarefa de quem está legitimado para gerir o clube.

A dos sócios é ajudarem como melhor puderem. De preferência de forma construtiva e o mais atenta possível. 

Na minha vida a participação nunca se resumiu a bater palmas, nem a deitar abaixo.

No mundo atual e numa organização com o modelo de governo do Sporting, a participação também se faz aqui. E assim será enquanto me considerem oportuno e me dê a esse trabalho.

É também assim que vejo o esforço, devoção, dedicação e glória. Sem amarras, sem cegueira, sem contrapartidas, com entrega total, com frontalidade e disponível para ajudar, em especial sempre que criticar.

Cuidado com o racional do produto futebol. Sim, é um negócio e sim, também é emoção. Mas a emoção não pode servir para se converter numa sensação de exploração.

Não matem os leões dos leõezinhos de ouro, no processo. Podemos recuperar de muita coisa, não sei se resistiremos muito tempo a um caminho mal gerido de mercantilização da relação. A relação tem que ser sentida como tendo dois lados e não pode ser artificial e de mero oportunismo, nem se pode resumir a "experiências" pontuais encenadas no estádio ou seus arrabaldes.

Não é fácil, mas é muito fácil fazer enormes asneiras, como está a ser este caso.

O verdadeiro burro não é quem erra, é quem insiste no erro. Vejam lá isso.

Saudações leoninas.

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