O presente envenenado
Lamento, mas tenho de escrever isto aqui. E é já hoje.
Fernando Correia, figura profundamente respeitada na sociedade portuguesa em geral, era uma das raras personalidades que mereciam consenso entre os sportinguistas.
Como Aurélio Pereira, como o falecido professor Mário Moniz Pereira, como a nossa Maria José Valério.
Aos 83 anos, prestes a cumprir, não necessitava de função alguma para justificar aplauso no Sporting.
Lamentavelmente, aceitou um presente envenenado que Bruno de Carvalho acaba de atribuir-lhe: ser porta-voz do clube. Ao fim de mais de cinco anos de exercício em funções do actual presidente e quando este se encontra naquele que é - de longe - o ponto mais baixo do seu mandato.
Apetece perguntar por que motivo o dirigente leonino não descobriu antes os méritos deste veterano profissional da rádio, da imprensa e da televisão.
Logo na sua primeira intervenção pública no exercício das novas funções, os sportinguistas ouviram Fernando Correia pronunciar-se não como representante da totalidade dos órgãos sociais do clube mas como arauto de uma facção (o que resta do Conselho Directivo) contra a Mesa da Assembleia Geral, apresentando a versão de uma acta que o presidente deste órgão recusou subscrever.
Não podia haver pior baptismo. Naquele preciso instante, para usar uma linguagem agora muito em voga, mais um "activo" leonino acabava de baixar drasticamente a sua cotação - desta vez no importante mercado da comunicação. Nunca imaginei ver Fernando Correia - que várias vezes elogiei aqui - como uma espécie de cheerleader de um poder fracturante e fracturado. Que divide sportinguistas em vez de nos congregar e mobilizar.