O mito da "União"
(Há leitores [demasiado] apaixonados pelo tema [e desabituados de ler sobre outras coisas, o que se nota na forma como desinterpretam, invectivam, "julgam"]. São esses que, em não concordando com um texto, logo reagem apenas em função do "sei bem o que é que este gajo quer...". Por isso insisto em convocar o que fui escrevendo ao longo dos anos sobre o SCP. Não é que não mude de ideias, mas é na continuidade do que fui botando que devo ser discordado, desprezado, insultado e não em função desse miserável e corrente "sei bem o que é que este croquette filhodaputa quer ...":
Em 8.6.18 disse-me avesso a Varandas; em 9.7.18 insisti que Varandas não era o homem adequado. Em 4.2.19 apontei a sua falta de ponderação ... que causara "este naufrágio, este descalabro anunciado". Em 29.9.19 insisti que o presidente falhava e que as eleições antecipadas iriam acontecer, mais tarde ou mais cedo. Antes, neste blog, terei sido dos últimos (eu julgo que fui o penúltimo) a apoiar Bruno de Carvalho, ainda que com alguma ironia já desencantada, descrente que ele se reequilibrasse: 10.4.18 #JeSuisBruno. O qual vinha elogiando, como em 5.6.15 por tentar fugir à pérfida economia do futebol. E o qual dissera a personalidade portuguesa do ano em 2013.
Bem antes, vivendo muito longe, fui vendo como o Sporting ia decaindo num rosário de presidências algo estranhas: a 28.4.06 questionei como podia Soares Franco queixar-se da herança de ... Sousa Cintra. Em 14.3.08. irei-me sobre a rábula do "Projecto Roquette", algo encetado então há quase 15 anos, e que devastou o clube (ainda há pouco li a notícia sobre o início do projecto imobiliário nos terrenos do antigo estádio, coisa que não será pacífica). A 6.11.09 notava a total inaptidão de Bettencourt. Etc.)
Encimo este postal com a fotografia do convívio da Juventude Leonina (que agora, para minha vergonha, um co-bloguista chama em retórica ilusionista "grupo organizado de adeptos"), ocorrido em Fafe, cerca de dois meses após o ataque a Alcochete. Não é necessário grande elaboração. Apenas repetir o óbvio. A crise futebolística e económica que o clube sofre é, em grande percentagem, devida ao indigno e inaceitável ataque que o tal "grupo organizado de adeptos" fez às instalações do clube. Nem discuto se o então presidente teve responsabilidades, directas ou indirectas, nem se os jogadores se aplicavam ou não o suficiente, nem se tinham ou não direito moral e jurídico para rescindir. Digo que o mais antigo e conhecido "grupo organizado de adeptos" do clube, com as suas lideranças participantes, atacou as instalações do clube, agrediu funcionários e causou enormes prejuízos, económicos e morais, ao clube. Digo que meses depois, em confraternização, os outros "adeptos" "organizados" em "grupos" demontraram solidariedade com os agentes dessa acção. E digo que desde então não houve qualquer demonstração de repúdio dessa acção por parte dos "adeptos" que se "organizam" nesse "grupo": nem cisões dentro do "grupo", nem abandonos em massa por parte desses "adeptos", nem eleições internas sob o signo da ruptura. Mais ainda, digo que as suas atitudes nos estádios e pavilhões não têm demonstrando nem repúdio por este passado, nem inflexões comportamentais, nada disso.
Mais, como nos lembrou Paulo Bento, esta pressão agressiva destes "grupos organizados de adeptos" sobre as direcções do clube tem sido constante ao longo já de décadas, com efeitos morais lamentáveis e económicos e desportivos gravosos.
A questão actual fundamental não é se Frederico Varandas é ou não um bom presidente, se é competente ou não na gestão do futebol. Para avaliar se o presidente deve ficar ou se é fundamental realizar eleições antecipadas, convirá saber como estão as finanças e a economia do clube. E se a gestão actual é dolosa. Ou se nessa área tem conseguido, dentro dos constrangimentos conhecidos, conduzir o clube num sentido positivo ("sentido positivo" quer dizer "um bocado melhor do que antes"). Quanto às outras actividades julgo que nada de gravoso se passa. Resta o futebol sénior: onde o panorama é ... algo habitual. Um pouco mais cinzento do que em anos transactos, mas não pior do que em alguns deles. Tudo o resto - como dizer que isto é o pior de que há memória, - não é uma democrática divergência de opiniões, é pura demagogia. Pois não tem base em dados factuais, apenas numa ileitura do passado recente. E do real actual.
Ontem houve uma manifestação contra a direcção. Faz parte. Há notícias que houve agressões a membros da direcção e a uma familiar. As reacções são tétricas, e mostram o tipo de gente com quem se partilha a paixão clubística: a) alguns dizem que como não há imagens, não será verdade. Ou seja, na cabeça de alguns destes meus concidadãos o que não está filmado não é crível. O que significa isto? Que tenho em meu torno abjectos cidadãos que querem tudo filmado. Isto não é exagero meu. É apenas a reacção ao fedor da bronquidão circundante, de "adeptos organizados" e de "adeptos atomizados"; b) outros exclamam que se é a direcção que o afirma então é uma falsidade. Ou seja, desconfia-se não dos "grupos organizados de adeptos" que têm este historial de violência, intra e extra-muros, mas sim de cidadãos normais que, por paixão, se dedicaram à administração do clube (com alguma falta de jeito para tal, penso eu, mas isso é outra coisa).
Há muita gente, e neste blog também, que continua a defender que é necessário "unir" os sportinguistas, quem ataque os "divisionistas", aqueles a quem repugna a co-pertença desta gente. Só me pergunto, que género de comunhão é possível com este tipo de cidadãos? Que objectivos comuns se têm (ganhar a "taça"?)? Que racionalidade comum se tem? Aqueles que pugnam pela necessidade da união com a malta das catacumbas, dos insultos, das agressões, pugnam por terem os mesmos valores, de algo comungarem com essa turba? Alguns dirão que o valor é o "Sporting" mas seria interessante que explicitassem isso, sem debitarem o lema "Esforço, Dedicação, Devoção e Glória", pois isso é o lema, não são valores. Que comunhão há com esta gente? Gritar ao mesmo tempo quando uma bola entra entre postes? É importante que o explicitem. Um clube é uma associação desportiva, "é-se" de um clube por "associação" voluntária com outros. Que associação tendes com estes holigões, que associação quereis ter com estes holigões, que ideias e práticas comungais com estes holigões? São importantes porque fazem barulho no estádio? "Animam"? Não vedes o resultado, moral, económico, securitário, desportivo, desse "barulho", dessa "animação"?
Finalmente: um blog é um espaço de diálogo. Mas até que ponto é que é aceitável produzir textos, promover o debate entre gente que partilha a paixão do clube, ou a paixão de clubes (temos aí um pequeno núcleo de comentadores benfiquistas, que nos vem cutucar), e ao longo de anos acoitar, e nisso até promover, vozes insanas, adeptas da violência, do desrespeito cívico, da apropriação do património moral e da dissipação do património económico do clube? Qual é a lógica de continuar a aceitar a boçalidade, a agressividade, o insulto, a perfídia caluniosa, e até a ameaça, a aleivosia constante, que alguns continuam a deixar, continuamente, nos comentários deste blog? Democracia não é aceitar isso. Democracia é aceitar que estas gentes, na sua hediondez, têm direito a ter blogs, a neles escreverem. E aí dizerem as baboseiras que os caracterizam, e a pugnarem pelas desideias que os comandam. Ou seja, qual a razão de continuarmos, nós, co-bloguistas, a aceitar este lixo internético neste espaço gratuito, sem agenda interesseira? Porque damos nós palco a isto? Chega.