O gato da vizinha
Dei por mim a pensar neste último árbitro da Taça de Portugal que agora vai ser despromovido. Dei por mim a pensar no artista quando estava a tentar tirar o gato da vizinha do rodado do meu tractor. Miava, sim, miava muito, mas não era um miar de dor. Não me pareceu. Aquilo soou a miar de "tira-me daqui antes de voltares a pôr o tractor a andar, ò labrego". Não gosto que me chamem labrego, pá. Ignorei a ofensa do gato, ele não disse propriamente "labrego", mas estou convicto de que pelo menos pensou nisso, bem, dizia eu, tentei tirá-lo, mas ele já estava com medo, irritado, com dores, em pânico ou, pensei eu, o gato tem apenas mau feitio. Eu não gosto de maus feitios e às tantas fiquei eu irritado com tantos guinchos. Sim, o miar passou a guincho com os safanões que lhe dei (isto, sem sequer usar as mãos). Foi algures por aqui que me lembrei do Marco Ferreira, a sério que foi: lembrei-me da expulsão do Cédric aos 15 minutos numa jogada com mais defesas, lembrei-me da não expulsão do gajo do Braga em frente do banco do Sporting e lembrei-me sem saber porquê que se eu pusesse o tractor a trabalhar e fatiasse o gato todo, isso só seria um problema se a vizinha visse. Mas, vamos supor que o gato era mesmo um malcriadão e que me tinha chamado labrego, então, eu estava a fazer um favor à minha vizinha. Um gato destes não pode andar por aí a foder a paciência às pessoas, não é? Bom, se o Marco Ferreira for mesmo despromovido, esta tarde tenho de lavar o tractor.