O futebol a que temos direito
Muito se riram os adeptos das nádegas quando o Sporting voltou a participar na Liga dos Campeões: "deixem-nos rir", "não envergonhem o país", etc. Afinal, este Sporting em reconstrução (de muito mau trato infligido a si próprio, sem dúvida) teve uma participação europeia bem digna. Já as nádegas foi o que se viu: a nádega 1 acabou num lastimável último lugar no seu grupo de tubarões e a nádega 2 foi sovada de rabo ao léu em público lá pela Baviera. Eu acho que as nádegas estão mal habituadas: cá por casa, em nome da "bipolarização", vão de colinho um terço do campeonato, no outro terço encontram as pernas bem abertas da parte de clubes que lhes prestam vassalagem (por múltiplas e interessantes razões); no último terço, finalmente, têm de jogar a sério: e é aí que aparecem as derrotas e os empates (este ano a nádega 1 conseguiu mesmo a proeza, num jogo, de ter colinho e perder: em Paços de Ferreira). Tudo culminou, muito apropriadamente, no "jogo do ano" de domingo passado, que talvez merecesse mais o nome de "jogo do ânus" (para continuar com a escatologia), dada a sua extraordinária qualidade. É por isso que, quando têm de jogar a sério na Europa, já não se lembram como se faz. A má qualidade do futebol português na Europa não resulta só da falta de dinheiro. Resulta também deste pantanal em que o campeonato está praticamente decidido de forma administrativa desde o início.