O fosso
Segundo a Wikipedia, um fosso (do latim "fossa"), em arquitectura militar medieval, é uma escavação profunda e regular, destinada a impedir ou dificultar o acesso do agressor à linha de defesa de uma fortificação. A terra, retirada durante a sua escavação, pode ser utilizada para erguer muros de defesa. Conforme o tipo de seu preenchimento, pode ser "seco" ou "molhado".
No nosso estádio temos uma coisa desse tipo, que apenas dificulta o acesso dos sócios e adeptos ao jogo, uma ideia realmente estúpida de alguém que talvez sonhasse em fazer do estádio um palco de grandes concertos. E agora lá temos aquela coisa que não serve para nada mas da qual custaria muitos milhões vermo-nos livres. Se calhar mais barato ficaria implodirmos o estádio e fazermos um novo.
No futebol português também existe um fosso. Dois compadres construiram uma fortaleza com duas torres altaneiras, foram partilhando títulos internos e milhões de participações externas, repartindo "padres", actuais e futuros, como nos drafts da NBA, infiltrando os órgãos decisores de ex-dirigentes e adeptos, colonizando outros clubes, implantando amigos e cartilhados em tudo o que é Comunicação Social, até com a pandemia Covid conseguiram montar uma Unilabs "à maneira". Tudo limpinho, limpinho, limpinho. Ainda temos hoje árbitros que são filhos ou familiares doutros que lá andaram nos tempos dos "quinhentinhos" e dos "cafés com leite". Sem hipóteses de "mijar fora do penico" e sempre prontos a uma ajudinha nos momentos críticos.
E o castelo foi prosperando. Ganhar traz dinheiro, dinheiro traz capacidade de montar equipas competitivas, equipas competitivas trazem capacidade de ganhar. E quando estão com dificuldade, alguém amigo do castelo dá o jeito. E nas conquistas todos aparecem. Dos pedreiros aos juízes. Claro que sempre houve um ou outro momento em que as duas torres estavam tão distraídas uma com a outra que aconteceu uma entrada furtiva. Mas logo houve um tocar a reunir, no Rei dos Leitões ou noutro sítio qualquer.
E depois o tal fosso. Qualquer um que não alinhasse não chegaria ao castelo, árbitro inconveniente ou clube que se armasse em independente podia ter a certeza que lhe corria mal a vida. Como correu ao Sporting, muitas vezes esteve quase a ganhar mas depois uma mãozinha dum árbitro, uma azia doutro, uns jogos que pareciam oferecidos a outros, uns jogadores que pareciam estar a jogar de camisola trocada. Como no ano passado em que Palhinha recebe um amarelo inacreditável antes do jogo com o Benfica e Gonçalo Inácio é expulso em Braga. Como naquele ano distante em que perdemos com o Porto em casa com o Manuel José como treinador e ele estranhou o rendimento dum ou doutro dos seus jogadores. Se calhar por isso nunca treinou o Porto. O tal fosso.
E ao dia de hoje o tal fosso ainda lá está, mesmo que bem mais pequeno do que já foi. O fosso existe nos orçamentos e valor dos plantéis daqueles dois relativamente ao nosso clube, nas arbitragens que nos castigam duramente (na B então é mesmo à descarada), nas equipas que contra nós parece que tomaram a poção do Astérix e que contra os rivais chá de cidreira, nos adeptos doutros clubes que parecem adeptos doutro rival. Ainda agora o Porto a perder com o B-SAD contou com um jogador da outra equipa que resolveu sair dali depressa e ir tomar banho, tal era a despreocupação com que entrava aos lances, e até conseguiu ter um jogador lesionado no banco para levar um amarelo e lesionado cumprir o castigo. Outro episódio dos "chitos" à moda do Porto.
Apesar dos títulos alcançados nas últimas três épocas, 1 CN, 1 TP, 2 TL, 1 ST, para muita gente influente aqui e ali o Sporting continua a ser o terceiro clube português, algures entre os dois maiores e o Braga. E sabem bem porquê.
Por isso entendo que Frederico Varandas esteve muito bem na última entrevista em denunciar o tal fosso e apontar para a sua extinção, num momento em que, dos dois compadres donos das torres, um já saiu de cena vergado a um conjunto de acusações que envergonham qualquer um e o outro, pela idade que tem, já se julga inimputável e se calhar tem razão, vai ser a lei da natureza a decidir do seu destino.
#JogoAJogo
SL