O estranho critério do jornal 'Record'
Já várias vezes falei aqui nisto. O jornal Record insiste, época após época, em avaliar os jogadores com uma estreitissima grelha de avaliação que em teoria vai de 0 a 5 mas que na prática oscila entre 2 e 4, reservando a nota 1 para aqueles que entram mesmo no fim e às vezes nem chegam a tocar na bola.
Estranho critério, que mal distingue o excelente do bom, o bom do regular, o regular do medíocre, o medíocre do péssimo.
Tem sido assim com vários directores. Já desisti de lhes pedir - enquanto leitor atento e regular do jornal - que alterem essa grelha e adoptem a avaliação de 1 a 10 posta em prática há vários anos pelos rivais A Bola e O Jogo. Escusado: é como se estivesse a falar com uma parede. Não admira que vão perdendo audiência, tratando os leitores com esta indiferença olímpica.
Vem isto a propósito de quê? Da edição de anteontem desse jornal. E do tratamento dispensado a Marcus Edwards nessa edição.
Na capa proclamam, em letras garrafais: «King Edwards».
Lá dentro, no plano de abertura do jornal, escrevem nada menos que isto, sempre em toada elogiosa: «Noite mágica de Edwards em Alvalade, com um golo "maradoniano" e uma assistência que garantiu os 3 pontos. O inglês foi o grande motor da reviravolta, com 9 passes para finalização, igualando o máximo da Liga em curso».
Sempre a pôr o avançado leonino nos píncaros - aliás inteiramente merecidos, na linha do que escrevemos também no És a Nossa Fé.
Páginas adiante, mantinha-se o declarado entusiasmo do diário da Cofina pelo desempenho do nosso jogador.
Num destaque gráfico, lia-se mais esta prosa muito adjectivada:
«Edwards fez, muito provavelmente, o melhor jogo ao serviço dos leões. Foi o líder da reviravolta. Primeiro com um golo maradoniano e depois com uma assistência para Paulinho fixar o resultado.»
Nem faltava o neologismo "maradoniano", aliás muito a propósito.
E afinal... esperavam nota 5?
Pois enganaram-se. Qual "motor da reviravolta", quais "nove passes para finalização", qual "maradoniano", qual "king": nem pensar. Isto era só para driblar os leitores.
No fim de tudo, o jornalista encarregado de o avaliar, na cobertura do jogo, deu-lhe apenas nota 4. Como se fosse um velho catedrático da Faculdade de Direito de Lisboa, de mil novecentos e troca-o-passo, forreta até mais não no momento de lançar as pautas.
E o que diz ele?
Chama a Edwards um «inglês de excelência que ontem reencarnou [n]uma espécie de Maradona». Concluindo, sem margem para dúvidas: «Foi brilhante.»
Blablablá.
Toma lá 4, Marcus. Não mereces mais deste Record, muito mais exigente para outros do que para si mesmo. Sem perceber que desta forma não menoriza terceiros: só desqualifica o jornalismo que vai praticando, de modo cada vez mais penoso.
Sem justificar, quanto a mim, desempenho acima da nota 2. Segundo a grelha deles.