O espírito de Vidal Pinheiro
Qualquer sportinguista sabe que hoje é um dia especial. Há 15 anos fomos campeões num jogo memorável, deitámos 18 anos de angústias cá para fora, invadimos as ruas de todo o país, enchemos praças, subimos a estátuas, corremos na berma da autoestrada, celebrámos no nosso estádio, entrámos relvado dentro, abraçámos os nossos jogadores. Um por um, gritando sempre e bem alto o nome do nosso Sporting. Tenho para mim que a minha geração se divide entre quem esteve e não esteve em Vidal Pinheiro. Desculpem a arrogância da memória, mas eu estive lá. Confesso que nunca me passou pela cabeça só festejar mais um título depois disso, mais uma razão para lembrar o espírito dessa equipa: raçuda, com ganas de ficar na história, espírito de entreajuda, a procurar a sorte quando lhe faltava o engenho, motivadora da curva sul e em comunhão com esta. É isto que nos tem faltado: substituir a ingenuidade dos "talentos" de Alcochete por gente combativa, mostrar raça onde ela parece não existir, jogar todos os domingos como se fosse o último, respeitar os sócios e entrar em cada pardieiro desta liga com eles em campo. Temos infantis a mais em lugar de seniores, temos mimados a mais em lugar de homens, temos tenrinhos a mais em lugar de raçudos. Importa por isso lembrar essa equipa que nos pôs a chorar de alegria faz hoje 15 anos: Schmeichel, Saber, André Cruz, Quiroga e Rui Jorge, Aldo Pedro Duscher, Vidigal, Pedro Barbosa, Ivone de Franceschi, Ayew e Alberto Federico Acosta. E como são 15 anos pensei que a imprensa recordasse isso, tão ciosa que é de efemérides com números redondos. Mas não. Houve quem preferisse lembrar os 21 anos de uma tragédia, menosprezando a nossa data.