O dia seguinte
Há duas épocas, o Sporting foi campeão nacional com Frederico Varandas como presidente e Rúben Amorim como treinador. A equipa jogava em 3-4-3, o guarda-redes defendia tudo, no ataque havia um tal "pote de ouro" que em cada duas oportunidades marcava três, as bancadas estavam vazias e o presidente estava calado.
Nesta época, com o mesmo treinador e o mesmo sistema táctico, o guarda-redes oferece golos, os avançados falham de baliza aberta, o tal Pote agora é médio, nas bancadas meio vazias há uma claque que muda de cântico quando o adversário mete um golo convertendo-se em mais um factor de pressão para a equipa e o presidente fala quando não deve.
Assim é mesmo complicado ganhar seja o que for esta temporada, independentemente das responsabilidades de cada um na questão e do que vou dizer a seguir em termos de sistema de jogo.
No sistema de Amorim a posição "8" é fundamental. É o elemento que joga de área a área ("box-to-box"), que ajuda o "6" a defender, transporta jogo pela faixa central, abre nos alas e remata à baliza. E joga sempre durante toda a época, alérgico a lesões e constipações. Será então o motor da máquina. Nesse ano de sucesso o "8" era o João Mário, hoje a fazer uma enorme época no rival, no ano passado foi Matheus Nunes vendido por muitos milhões para a Premier League, este ano é... ninguém. Bragança partiu, Morita nem 90 minutos aguenta quanto mais uma época, Sotiris não é Ugarte, o Mateus Fernandes é um erro de casting. Sobra... o melhor avançado do plantel.
E com Pedro Gonçalves a tentar ser o que não é, ficamos com Edwards, Arthur, Trincão e Rochinha como hipóteses para avançados interiores a acompanhar o ponta de lança. Todos mais ou menos a mesma coisa, baixinhos, levezinhos, a querer receber a bola no pé, incapazes de desmarcações na profundidade, sem qualquer jogo de cabeça, de difícil relação com o golo, todos eles a condenar o tal ponta de lança, Paulinho ou Chermiti, a ser um pinheiro lá na frente.
Com os interiores a baixar para receber a bola com adversários em cima, fica a equipa condenada a rodar a bola pelos alas, que quase sempre centram para ninguém. Pelo menos Nuno Santos, já que Esgaio desistiu dessa tarefa.
Resumindo, com todos estes equívocos o futebol do Sporting transformou-se numa coisa pastosa e repetitiva logo a começar no guarda-redes, propiciando o erro em zonas perigosas e sem saber meter velocidade no momento certo mais à frente nem solicitar um avançado em desmarcação em profundidade.
E pronto. O jogo acabou com 1-1, menos mal. Quem não viu, não perdeu grande coisa. Eu vi na bancada e revi já em casa antes de escrever estas linhas.
Melhores em campo? Os uruguaios, os únicos que honraram o lema do clube. Tudo o resto uma vergonha, pelo que se passou e pelo que nos trouxe aqui, incluindo presidente, treinador, jogadores e a tal claque. Disse Ugarte no final do jogo: "Obviamente que podíamos fazer muito mais, não tivemos muitas ocasiões, mas sim domínio. O mais importante é marcar e criar. Mas faltam 90 minutos. Conseguimos dar muito mais e vamos dar muito mais. Falta um bocado mais de fome, temos de acreditar mais no nosso potencial. Depois do golo ficámos nervosos... É isso, é preciso ter mais fome."
É mesmo isso. É preciso fome... de golos, de vitórias, de títulos. Isso tem de vir de todos, do presidente, do treinador, dos jogadores, dos sócios e das claques. Quando se ganha todos querem ir ao Marquês, mas muito poucos estão dispostos a sofrer todo o necessário para lá chegar.
Fora isso, excelente arbitragem, realmente vendo este desempenho do jovem árbitro francês percebe-se a mediocridade dos "melhores" portugueses e dos "experts" ex-árbitros comentadores de arbitragem, cobardes e comprometidos com o sistema corrupto vigente. Foi uma arbitragem que defendeu o futebol e a verdade desportiva.
SL