O dia seguinte
Foi um excelente jogo de futebol entre um dos "big3" portugueses e um dos "big5" ingleses, um jogo digno duma Champions onde temos mesmo de estar ano após ano, duas equipas que têm muitas coisas em comum mesmo com orçamentos e valores de plantel completamente distintos. Uma equipa portuguesa que vinha cansada por três jogos numa semana, uma equipa inglesa que vinha descansada pela anulação da jornada da Premier League pelos motivos conhecidos.
Desde logo o mesmo sistema táctico 3-4-3, o mesmo tipo de guarda-redes experiente, tremendamente concentrado e extraordinariamente eficaz, o mesmo tipo de patrão defensivo imponente, o mesmo tipo de ponta de lança associativo que funciona como pivot de toda a manobra ofensiva da equipa. Mas também todo um modelo de jogo que previlegia as transições e os avanços em profundidade dos dois interiores.
Se Lloris conseguiu duas defesas do outro mundo a remates de Edwards e Porro, Adán esteve seguríssimo. Se Eric Dier mostrou bem porque é titular da selecção inglesa, quase 10 anos depois de ter sido lançado por Jesualdo Ferreira como trinco na equipa principal do Sporting, com uma capacidade de passe à distância notável, Coates esteve ao seu nível e foi uma parede intransponível para o ataque adversário. Se tudo passava por Harry Kane no ataque do Tottenham embora desperdiçando ele um dos melhores centros do encontro (acontece aos melhores), Paulinho entrou e logo se antecipou ao mesmo Kane para desviar para a baliza contrária uma bola que entrou como um missil na baliza de Lloris.
Mas um Edwards ou um Arthur Gomes como estes é que não havia no Tottenham. Foram dois lances que os melhores do mundo não desdenhariam assinar, no primeiro ainda Lloris deve estar a tentar perceber como conseguiu defender, no segundo não teve hipóteses.
O Sporting entrou em campo com a lição bem estudada: construir desde trás para atrair, conseguir colocar a bola atrás da linha de pressão para partir em velocidade em direcção à baliza contrária. O Tottenham saía fácil, Kane recuava para atrair a defesa e facilitar a colocação de bolas nos dois interiores atrás da nossa linha defensiva. Ao intervalo tinham sido três oportunidades claras do Sporting, contra apenas outras três situações de fora de jogo por parte do adversário.
Na 2.ª parte as coisas complicaram-se para o Sporting, a fadiga acumulada começou a pesar especialmente em Morita e Trincão, o Tottenham começou a ter uma facilidade muito maior em ganhar os duelos e circular a bola e as situações de verdadeiro perigo começaram a acontecer na baliza de Adán. Valeu que o Tottenham nunca forçou verdadeiramente o jogo aéreo, porque aí é que estava o grande problema do Sporting, como naquele lance em que Nuno Santos é facilmente batido, a cabeçada vai ao solo e Adán salva.
Com as entradas de Sotiris e Paulinho, Rúben Amorim equilibra o jogo, as duas equipas parecem conformadas com o empate e eu também, quando Porro tem um daqueles lances "à Porro" que Lloris defende milagrosamente, no canto Paulinho marca da forma atrás descrita, e ainda andava eu meio louco aos pulos na bancada quando olho para o relvado vejo o Arthur, que nem sequer tinha reparado que tinha entrado, ir por ali fora tipo futebol de praia e marcar o segundo.
Inacreditável, tive de me beliscar para ver se não estava mesmo a sonhar, mas também tudo à minha volta me dizia que não. E foi verdade mesmo, uma grande vitória do Sporting, a quarta consecutiva sem sofrer qualquer golo, 6 pontos na Champions e quase 6M€ de encaixe, bem mais próximos de repetir o feito do ano passado e passar aos oitavos de final da competição.
Um dia de glória para Rúben Amorim. A ele, mais que a ninguém, devemos este feito, duma resiliência e duma competência a toda à prova. Glória a este punhado de jogadores com uma alma de leão incrível, um dia de glória para uma equipa com vários estreantes na Champions, e especialmente um dia de glória para um brioso jogador que não merecia a campanha idiota e vergonhosa (que não se confunde com a crítica legítima e fundamentada) que alguns dentro e fora do clube não se cansaram de fazer talvez apenas para chegar a outros objectivos: desestabilizar este treinador, desestabilizar este presidente, desestabilizar este clube, o Sporting Clube de Portugal.
Agora aguentem e vão chatear o Taremi.
Melhor em campo?
Foram tantos que é difícil escolher, se for pelos que entraram de início e duraram o tempo todo talvez Ugarte. Se for para quem decidiu o jogo, claro que terá de ser o Paulinho.
SL