O dia seguinte
Ontem em Portimão o jogo do Sporting lembrou-me um dia que passei na ilha Terceira. Primeiro um sol radioso, depois as nuvens chegaram depressa com chuva e vento de assustar qualquer um, para a seguir tudo voltar ao início.
Com a tal frente móvel que anda na cabeça de Amorim, o Sporting construia jogo de trás para a frente com critério, ninguém estava parado e a bola chegava com facilidade à area do adversário. E quando era perdida, de pronto era recuperada.
O problema era traduzir todo esse domínio em reais oportunidades de golo. Tabata ainda cabeceou à trave, mas ter Porro e Nuno Santos a cruzar por alto para três baixinhos não faz muito sentido. Mesmo assim, num lance em que Edwards foi por ali fora naquele seu jeito de quem não quer a coisa, o guarda-redes deles sacode o remate para a frente, e oferece o golo a Tabata. O Sporting ficou confortável e tranquilo no jogo, parecia ser questão de entrar o segundo para o resultado ganhar forma de goleada.
Mas dum lance inofensivo Coates corta de forma mais ríspida e há um livre. Do livre nasce um golo por tabela no pé do segundo jogador da barreira, logo a seguir Coates ainda devia estar a pensar no assunto em vez de acudir ao passe à queima de Inácio, e veio outro golo sofrido. Com a desvantagem no marcador tudo começou a ficar pior, os passes deixaram de entrar, os possíveis cantos só davam pontapés de baliza, os de Portimão corriam bem mais do que os do Sporting. Com a saída de Matheus Reis e a entrada de Esgaio ao intervalo, tudo o que era mau ficou bem pior.
Enfim, parecia o naufrágio açoriano com o Santa Clara revisitado.
Depois entrou Sarabia. As nuvens negras dissiparam-se e veio o sol radioso. Recupera a bola na esquerda, abre muito bem para a direita, vai ao centro e... golo. Vê a desmarcação de Tabata e corre para a recepção do centro e... golo.
Ainda houve outra bola lá dentro, golo anulado por fora de jogo a Nuno Santos. Voltámos a dominar com calma e competência.
Assim o Sporting fez a sua obrigação. Mais uma vitória, na jornada que fez do Porto campeão, ficámos a 6 pontos e com uma vantagem de 11em relação ao Benfica num segundo lugar que deixa a sensação de que as coisas podiam ter sido diferentes. Para melhor.
Mas nos momentos críticos uns tiveram uma mãozinha a ajudar a nadar, outros uma manápula a empurrar para baixo. Soares Dias e João Pinheiro merecem também a medalha de campeões, se calhar recebem-na na tranquilidade do lar, com fruta e chocolate a acompanhar.
Melhor em campo? Sarabia, obviamente, mas Tabata fez uma grande primeira parte. Continuo a dizer que o lugar dele é o do Matheus Nunes.
O que correu pior?
Por muita polivalência que tenha um jogador, defender uma semana na esquerda, na outra na direita, e logo voltar à esquerda, numa equipa que constrói desde trás, é tarefa hercúlea. Para a bola correr rápido, o jogador tem de executar "de memória" e não analisar primeiro e executar depois. E a memória constrói-se com a rotina. Gonçalo Inácio não é o Hercules. Esquerda ou direita, Amorim? O rapaz é canhoto...
Outra coisa que correu muito mal foi a exibição de Pedro Gonçalves. Mais uma. Se um "scouter" tivesse visto alguns dos jogos da primeira parte da temporada, por exemplo o Sporting-Dortmund, tomasse nota do 23 e agora visse este jogo também, não acreditaria que seja o mesmo jogador. Bom, pelo menos esta época ele não sai e para a próxima acredito que volte a ser o que já foi. O melhor jogador do Sporting.
#JogoAJogo
SL