O despedimento de Marco Silva é a TSU de Bruno de Carvalho
Quando Bobby Robson faleceu, José Eduardo Bettencourt, à época presidente do Sporting, disse uma frase que viria a ficar imortalizada: a demissão de Bobby Robson (quando ia à frente do campeonato) tratou-se de uma "precipitação à Sporting".
Ninguém sabe o que teria acontecido ao Sporting caso Bobby Robson concluísse o trabalho que, até então, estava a desenvolver de forma muito competente. Sabe-se, isso sim, que nas duas épocas seguintes Robson sagrou-se campeão nacional com…as cores do Porto.
Outra precipitação à Sporting foi o despedimento do treinador campeão nacional em título Augusto Inácio, seguida de nova precipitação que foi dar por sem efeito a contratação de José Mourinho como novo técnico. Ninguém sabe o que teria acontecido ao Sporting caso José Mourinho pegasse naquela equipa que não era nada de se deitar fora (Pedro Barbosa, Schmeichel, João Vieira Pinto, Acosta, etc) e que, no ano seguinte, seria ainda melhor reforçada (Quaresma, Hugo Viana e Jardel). Sabe-se, isso sim, o que José Mourinho fez nas duas épocas em que treinou o Porto.
Nestes últimos dias, assistimos, incrédulos, à novela mais surreal desta temporada e que fez pairar no ar a sombra de algumas das nossas piores memórias como aquelas de que acima dei conta.
Sem que se percebesse muito bem por quê, um jovem técnico que, à data, e de forma global, tem realizado uma época competente, de um momento para o outro, iria ser apeado do seu lugar. Valeu a indignação construtiva generalizada dos sportinguistas (de que muitos posts no És a Nossa Fé foram, a esse título, bom exemplo) para que uma decisão que se preparava para ser uma monumental precipitação, afinal, não se tivesse materializado.
Infelizmente, Bruno de Carvalho não deu o passo atrás que se impunha para dar os 50 à frente que se desejam. Em vez de responder que “Marco Silva orientará a equipa em Guimarães, Alvalade, Braga, Wolfsburgo e para onde o calendário determinar até ao termo do seu contrato”, colocando assim uma gigantesca pedra sobre a polémica, o presidente do Sporting disse, antes, de forma abreviada, que "Marco Silva orientará a equipa em Guimarães”, continuando a deixar aberto o flanco para a especulação e boataria.
Esta novela faz lembrar, com as devidas distâncias, o famigerado episódio da TSU, uma medida que surgiu sem que ninguém estivesse à espera, nem visse a bondade da mesma, e que teve as reacções que se conhecem, abalando, bastante, a confiança em Passos Coelho por parte de muitos dos seus apoiantes. Com a tentativa de demissão de Marco Silva, para a qual ninguém conta, nem vê a sua utilidade, muitos sportinguistas ficaram, legitimamente, decepcionados com a abordagem do seu Presidente ao assunto, gerando uma desconfiança sobre a gestão do futebol por parte de Bruno de Carvalho e que demorará bastante tempo a desaparecer.
Nos próximos dias, preferencialmente ainda esta semana, Bruno de Carvalho tem de dar por sem efeito a ridícula assembleia geral extraordinária que solicitou e para a qual ninguém vê qualquer utilidade, e confirmar, de forma mais clara e peremptória, que Marco Silva continuará a ser o timoneiro da equipa. Só assim é que o Presidente do Sporting conseguirá salvar a face neste desastroso processo de que é, em larga parte, responsável. A Marco Silva competirá prosseguir a senda de bons resultados para que, daqui a pouco tempo, mais ninguém se lembre desta triste novela e se volte a focar naquilo que mais importa: a equipa.