Novidades da Gazeta de Pyongyang
Vou num quarto de século dedicado a uma profissão que tem na primeira página a montra capaz (ou não) de atrair a atenção daqueles que asseguram o meu salário e o salário dos meus camaradas quando dão uma ou mais moedas para levarem o jornal das bancas - ou, mais recentemente, para o receberem por via electrónica. Nem todas as primeiras páginas para as quais contribuí saíram como eu desejava. Por vezes não consegui convencer quem tinha a incumbência e noutras fui mesmo eu a cometer o que na manhã seguinte eram evidentes erros de palmatória.
Dito isto, a exclusão de Jorge Fonseca, primeiro português campeão mundial de judô, da primeira página do “Jornal do Sporting” é especial aberrante. Não só pelo valor de notícia (que, garantem-me, não foi ignorada no interior), não só por o feito do judoca leonino não ter sido valorizado por nenhum dos cronistas residentes (mais uma vez é o que me dizem), mas também por a exclusão ter indícios de ser a consequência das declarações de Jorge Fonseca e do seu treinador, Pedro Soares, nomeadamente quanto ao estatuto de atleta do Sporting da jovem ucraniana Daria Bilodid, que também venceu o título mundial, e aos elogios públicos de Jorge Fonseca a Bruno de Carvalho.
Se assim tiver sucedido temo muito más consequências para a permanência destes valores do judo de leão ao peito, em linha do que já aconteceu com a valorização da liberdade de expressão que culminou no fim do programa de Rui Calafate e Samuel Almeida na Sporting TV. Quanto ao “Jornal do Sporting”, que vou comprando de forma intermitente desde a adolescência, resolvi suspender a sua retirada das bancas após os textos sobre a Supertaça terem saído amputados da ficha de jogo, numa decisão que me encheu de vergonha alheia. Mas há muito tempo que lhe reconhecia escassa mais-valia em relação ao que vai saindo nas redes sociais, também mais fracas na actual gerência... Espero que melhore o jornal e melhore a mentalidade no Sporting. Alvalade não pode parecer assim tão perto da Coreia do Norte.