Quatro notas sobre o jogo desta noite
1. Confirma-se que temos reforços. Estão mais perto do que muitos pensavam: no Sporting B ou à sombra dos titulares habituais, espreitando um lugar na equipa. O jogo de hoje em Alvalade para a Taça da Liga, contra o Boavista, reforçou a impressão que o de há duas semanas em Guimarães já tinha demonstrado: estes jovens que costumam manter-se no banco dos suplentes ou nem lá costumam sentar-se merecem uma oportunidade. Porque têm qualidade suficiente para dar o seu contributo. Que aliás já pode ser avaliado em números: dois jogos, duas vitórias. Três golos marcados, nenhum sofrido.
2. Andávamos vários de nós preocupados com as carências no ataque leonino e afinal, também aqui, havia uma solução pronta a utilizar. Tanaka, até há muito pouco preterido e já transformado no novo ídolo de Alvalade. Várias vezes defendi aqui que o japonês devia merecer a confiança de Marco Silva. Isto apenas com base na boa pré-temporada que fez com a camisola verde e branca, tendo-se distinguido então como o nosso melhor marcador. Agora, depois daquele espectacular pontapé de livre que valeu três pontos em Braga, já ninguém tem dúvidas: podemos e devemos contar com ele. Hoje voltou a marcar o golo da vitória, de grande penalidade. O mês vai quase a meio e ainda ninguém deu pela falta de Slimani, ausente no campeonato africano das nações.
3. A solidez do desempenho colectivo destas "reservas" do Sporting num onze de onde estiveram ausentes todos os titulares relega para segundo plano os realces individuais. Mesmo assim, faço alguns destaques. Tobias Figueiredo voltou a situar-se em alto nível, conferindo solidez e segurança ao eixo defensivo. André Geraldes reforçou a excelente impressão que me causara em Guimarães apesar de nos dois jogos, enquanto lateral esquerdo, actuar fora da sua posição de origem, que é na ala oposta. Rosell soube gerir bem a posse de bola e ligar os sectores, mas tem de se acautelar com os cortes demasiado exuberantes atendendo à tendência dos árbitros portugueses de inflacionar a exibição de cartões. Ryan Gauld voltou a ser muito influente, nomeadamente nas recuperações de bolas e na jogada mais decisiva do encontro, ao provocar o contacto com o guarda-redes adversário de que resultou o penálti. Esgaio regressou a uma posição que conhece bem, como ala direito, e correspondeu à aposta que nele fez o treinador: destaco dois passes para Tanaka, aos 37' e 64', que quase funcionaram como assistência para golo. Podence, muito dinâmico, voltou a revelar qualidades: precisa apenas, em certos lances, de libertar mais cedo a bola. E Slavchev, que tinha sido o jogador mais apagado em Guimarães, revelou desta vez bons apontamentos enquanto o físico resistiu, mas falta-lhe rodagem para aguentar mais de 45 minutos.
4. Esta noite, mais ainda do que no desafio de Guimarães, estes jogadores que raras vezes têm treinado e actuado juntos organizaram-se em campo com verdadeiro espírito de equipa. Gerindo a posse de bola com muita inteligência. Ganhando ressaltos por sistema aos adversários. Ocupando eficazmente tanto os corredores como o espaço central nas missões ofensivas e defensivas. E criando sucessivas linhas de passe no meio-campo do Boavista, que mesmo a jogar com mais um durante a meia hora final - devido à expulsão de Rosell por discutível acumulação de cartões amarelos - nunca traduziram em campo essa superioridade numérica. Pelo contrário, parecia até que era o Sporting a ter um jogador a mais.