Nós, há dez anos
Eu: «- Marcámos três excelentes golos!
- Homessa! E o que é que isso interessa? Interessa é as jogadas envolventes pelo eixo do relvado de modo a desposicionar os jogadores do outro lado. Ora isso não aconteceu, garanto-te eu!
- Como querias tu jogadas envolventes se o relvado estava transformado num lamaçal?
- Lamaçal? Não me pareceu nada mal! O bom futebol, tal como eu sustento, só exige talento.
- E não te esqueças que jogámos desfalcados de três titulares. O Nani não jogou, nem o Jefferson. E o Slimani também não.
- Não esteve o Nani. Mas os que jogaram também eu não vi. No fundo, o Arouca teve o maior azar do mundo. Estou farto deste debate: o Arouca merecia pelo menos o empate.
- Que exagero! Os do Arouca atiraram-se para o chão o tempo todo, a simular faltas e a pedir penáltis...
- E penálti não foi aquele lance do Cédric, meu grande boi? Claro que sim: acredita em mim! E o Jonathan, aquele filho da mãe, cometeu penálti também. O árbitro foi muito nosso amigo ao não ter assinalado tal castigo. Digo-te sem rodeios: todos os lances do Sporting foram feios.
- E nem gostaste do Tobias?
- O Tobias? Batatas com enguias...
- E ao menos gostaste do Mané?
- O Mané? Borras no café...
- E do William Carvalho?
- Carta fora do baralho...
- E os golos, que foram tão bonitos?
- Bonitos coisa nenhuma: isso não passou de espuma. Bonito, bonitão... foi aquele golo do Quaresma no Dragão. Bela trivela. Por mais que me apeteça, nunca esse golo me sairá da cabeça.
- Ó pá, mas porque é que agora falas o tempo todo em verso?!
- Aprendi com o grande Pinto / Da Costa a declamar / E cada vez mais me sinto / Com ânsia de versejar.»