Noção das coisas
O golo de Matheus ao Braga no ano em que fomos campeões foi um dos momentos de maior felicidade que tive nas últimas décadas. Foi um lance fortuito, carambólico, uma sorte do caraças, que nasceu de manha, sentido de oportunidade e coragem do antigo empregado de pastelaria rematar à baliza, assumindo responsabilidade.
Claro que Amorim tem razão quando diz que este ano tem sido 'assim'. Nas nossas vidas também temos anos assim. Insisto numa ideia que venho repetindo: o único clube em Portugal que tem em si a força para vencer sempre a adversidade é o Porto.
Benfica e Sporting, por razões diferentes, são demasiado contingentes à sorte e ao momento. Também porque só de vez em quando se acerta nos pontas-de-lança que se têm ou se compram.
Acaso o Sporting eliminaria a Juve com o Gonçalo Ramos e o Musa? Não. Mas talvez nem tivessemos caído na fase de grupos se o Enzo que foi para o Chelsea fosse nosso.
Só mais uma coisa. Os nossos clubes já fazem muito, imenso, na Europa. Caso não tenham reparado, Portugal é um país pobre, extremamente envelhecido, que vive de dinheiro europeu e de servir pastéis de nata aos turistas. Onde é que um fabricante de automóveis português se bate de igual para igual com a Fiat? Onde é que uma marca de mobiliário lowcost se bate com a Ikea? Que cadeia de hamburguers se bate com a McDonald’s? E que marcas de moda rivalizam com a Zara, a M Dutti e essa malta?
Vamos ter noção.