No Sporting-Porto
Vi o Sporting-Porto, e não via um jogo nosso há já meses. Fi-lo em casa de grande amigo, como tantas vezes acontece, dos jogos fazendo pretexto para petiscaria fina. O melhor camarote que há, onde congregamos grupo de sportinguistas amigos desde a infância. Teoricamente seria eu o mais atento, dado que os meus "manos" estão mais mergulhados nas proezas do Miguel Oliveira. De facto, talvez nem tenha sido assim tanto, dado que após o lance de Godinho me encontrei distraído sentado à mesa, costas dadas ao ecrã, bebericando, tasquinhando e palrando com as senhoras presentes, as amigas de décadas casadas com os aficionados ali espojados nos sofás, elas sempre algo superiores, ainda que solidárias, à nossa futebolite.
Mas lá me reintegrei na "moldura humana". Tenho entre aquele plantel algum prestígio futebolístico pois, ainda que todos da mesma idade, sou o único que me lembro do Manaca, Alhinho, Bastos e Carlos Pereira e, presumo, até mesmo do Miguel Garcia. E, cume dos cumes, escrevo no És a Nossa Fé, dimensão autoral que dá crédito às minhas doutas opiniões sobre o jogo. E como tal - entre o bom vinho (Douro Post Scriptum 2018, muitíssimo bebível a preço nada proibitivo), a muito composta tábua de queijos, um apreciável cajú (Loja Cafélia, ao que fui informado), alguns produtos de fumeiro de origem bem referenciada, e ainda antes da aguardente de excelência, a qual só depois assomou, a lavar a alma do desgosto do empate - lá fui, com sageza de especialista, resmungando com as desatinadas opções tácticas do treinador Ruben Amorim. A compor uma equipa sem avançado centro, que é coisa que Jovane Cabral não é nem será, a moldar um esquema assente no Adan para Coates, Coates pontapé para a frente há espera que algum extremo em correria a consiga apanhar, o que tanto me lembra as desventuras de Anderson Polga durante as infindas décadas em que infernizou o meu sono adepto.
Depois vieram as substituições, a fazerem-me engasgar entre a devolução dos caroços de azeitona. E logo assinalei aos amadores espectadores que me ombreavam que "o gajo" (o Amorim) meteu uma série de jogadores avançados (Vietto, Tiago Tomás, Plata, João Mário e Sporar), típica solução desesperada aquando inexistem soluções tácticas. E assim partiu a equipa toda, o Sporting deixou de jogar para além dos repelões, a derrota - ainda para mais diante de um Porto algo sabido e ríspido - estava garantida. Enfim, a nossa tradicional incompetência, aliada à influência da manha arbitral. E todos anuíram a esta minha análise, mais avisada do que a deles.
Depois, lá para o fim do jogo, surgiu este golo, antecedido de uma bela Esporada à Sporar, já agora ... Riu-se o dono da casa e clamou(-me) "ouve lá, foram os tais avançados que fizeram o golo ..."! Escorropichei o copo, reenchi-o. "G'anda Rúben Amorim!", "que coragem", sublinhei, e viva ele pois "meteu a carne toda no assador", como agora se diz. Temos Homem! E plantel!