No país das maravilhas
"Não há eleições!
D. Sebastião volta para a semana!"
Esta é a capa de um dos primeiros livros de Vasco Pulido Valente (VPV), estava (estou) a relê-lo.
A notícia de hoje apanhou-me de surpresa.
Todas as mortes nos apanham nos apanhavam de surpresa (a partir de ontem vamos poder morrer com hora marcada e convidar familiares e amigos para a festa).
Conheço o Vasco desde que comecei a ter uma opinião política, muito cedo, tenho irmãos mais velhos e o 25 de Abril para os miúdos que nasceram nos anos sessenta era um Benfica vs. Sporting; muita paixão, muita luta, sem cinzentos. Branco, negro, a favor, contra.
Vasco foi um dos que me ensinou a ver outros caminhos, ainda criança, oito, nove anos já recortava artigos dele no Diário de Notícias, mais tarde, lia-o n' O Independente e na K (capa), no Público, também.
O que tem isto a ver com desporto, nada. Ou então; tudo! (hesitei na pontuação, não é canónica, é a que melhor expressa o que quero dizer e faz "pendant" com a pichagem).
Vasco queixava-se muito dos jogos do Benfica, dos vândalos, suevos e hunos que estacionavam em cima dos passeios e lhe bloqueavam a garagem nos dias de jogo do "glorioso" na Luz; enfim, não seria racismo lampiónico mas era má educação.
Deixo-vos com um extracto de um texto de VPV publicado no Diário de Notícias em 17 de Junho de 1977, chamado: Ressaca de Feriados.
«Neste bem merecido repouso dos insanos trabalhos da revolução, da democratização e da produção, a vida política séria e dura ficou suspensa.
O Portugal oficial reconquistou Camões à reacção e falou de História com H grande.
É, de facto, curiosa esta obsessão da retórica dominante com a História maisculada, imaginária ou ideológica, quando a conhece tão mal, despreza tanto o seu passado e o estuda tão pouco.»
Para terminarmos e num apelo ao civismo neste fim-de-semana, ponte, "feriado", o último parágrafo da referida crónica de Vasco:
«E lamentemos também aquele País que se precipitou para as estradas, na ânsia de gozar, com feridos e mortos, os absurdos "feriados de Junho". Nestes loucos anos setenta, já não se distingue bem o que é pura irresponsabilidade e o que é o medo dos dias que hão-de vir.».
Duas ideias fortes:
- Eleições, não. Dom Sebastião volta para a semana.
- Já não se distingue bem o que é pura irresponsabilidade e o que é o medo dos dias que hão-de vir.