Ninguém resolve nada sozinho
Espero, ansioso, pelo dia em que Marcel Keizer diga enfim uma palavra em português. Após quatro meses em Portugal, vai sendo tempo. Não tenho a menor dúvida de que já diria frases em castelhano caso estivesse a treinar em Espanha ao fim do primeiro mês.
Admiti inicialmente que tenha sido originada numa falha de tradução uma frase sobre Bas Dost atribuída ao técnico holandês na conferência de imprensa de antevisão do mais recente jogo do Sporting para o campeonato. Mas os dias foram passando e, como não vi qualquer desmentido, assumo que a tradução seja correcta.
«Ele [Dost] é holandês, sim, mas já joga fora do país há muitos anos e já está aqui há algum tempo, por isso conhecem-no bem. Ele consegue resolver esta questão sozinho.» Assim falou Keizer sobre a falta de confiança do avançado leonino já traduzida em crise de golos e num visível abatimento do ponta-de-lança em campo.
Há vários erros nesta frase. E nenhum é de tradução. Keizer deixa pressupor que não existe acompanhamento psicológico dos jogadores na estrutura profissional do Sporting, abdica da sua própria intervenção no processo de recuperação de Dost e parece esquecer-se que o futebol é um desporto colectivo: "sozinho" devia ser palavra proibida neste contexto. É sempre em grupo que os problemas se resolvem.
Não são palavras dignas de um condutor de homens. É com assumida decepção que escrevo isto.