Não, Patrício não é um símbolo do Sporting
A propósito do meu post pós-PSV sobre o Max, "A Camisola de Damas", o leitor Romão criticava não ter feito menção a Rui Patrício. Dizia ser ingratidão não o mencionar.
Embora perceba o ponto, não posso estar mais em desacordo. E acho que é uma boa achega para termos uma discussão desapaixonada sobre qual o papel que têm na história do Clube Patrício, William e Gelson - que tantos jogos fizeram com a camisola verde-e-branca. E não tenho qualquer dúvida em dizer que eles saíram do livro de honra da história do Clube pelo seu próprio pé.
Mas, primeiro, vejamos os números (WikiSporting).
Rui Patrício - 467 jogos, 451 golos sofridos (média 0,966/ jogo)
Vítor Damas - 456 jogos, 390 golos sofridos (0,855/ jogo).
Depois os títulos (ao serviço do SCP):
Rui Patrício - 2 Supertaças, 2 taças de Portugal, 1 taça da Liga
Vítor Damas - 2 Campeonatos Nacionais, 3 Taças de Portugal, 2 taças de honra (extinta).
Em ambos os casos, Damas tem uma vantagem considerável. Sobretudo se recordarmos que aqueles dois campeonatos foram ganhos quando no rival de Lisboa alinhava Eusébio (entre outros...). Notável, do espírito do capitão Damas - e da nossa diferença em relação aos nossos rivais de Lisboa - esta citação (WikiSporting): "essa defesa (incrível, para canto, a um remate de cabeça de Eusébio, num derby a contar para o Campeonato de 1969/70, que o Sporting ganhou) foi importante porque permitiu que ganhássemos por 1-0 e conquistássemos o título de campeões nacionais. O Eusébio veio cumprimentar-me e foi assobiado pelos adeptos do Benfica".
Mas não está nos números nem no palmarés a razão porque Patrício, no meu entender, não pode (nem, a bem do Sporting, deve) ser considerado um símbolo do clube. Não pode (nem deve) porque saiu do clube, de sua livre e espontânea vontade, por rescisão contratual unilateral, num momento de particular fragilidade para o clube.
Ele não rescindiu um contrato com Bruno de Carvalho. Ele rescindiu com o Sporting Clube de Portugal, clube que representava desde os iniciados (2002-2017). Rescindiu numa altura em que era capitão. Rescindiu quando o Sporting (os sportinguistas...) mais precisavam dele, entregues aos tiros no pé de um homem instável e "ultras" insanos - e pancada quotidiana de oportunistas de toda a sorte (políticos, agentes, comentadores, etc). Rescindiu sabendo os problemas que causaria ao clube e a desilusão que provocaria em milhões de adeptos.
Chegou onde chegou graças ao seu trabalho - evidentemente - mas deve-o em grande parte a Paulo Bento, que apostou nele, ao Sporting, onde sempre foi uma aposta, e aos sportinguistas, que tantos e tantos disparates daquele miúdo aguentaram ao longo dos anos (com alguns assobios pelo meio, reconheça-se), até àquele Campeonato da Europa de 2016, em que sentiram com tanto orgulho ver os nossos brilhar tão alto.
Patrício não rescindiu porque queria jogar num clube maior - pois foi jogar para o Wolverhampton. Rescindiu - sejamos francos - porque lhe pagavam melhor noutro lado.
Já agora, aqui ficam os nomes de alguns jogadores que não rescindiram em 2018, tendo condições (e sofrendo pressões) para fazê-lo: Mathieu, Coates, Ristovski, Freddy Montero, João Palhinha. Os que não rescindiram foram, aliás, a maioria.
E não me venham com a história dos coitados dos jogadores que sofriam pressões. As maiores vítimas do desvairio de 2018 não foram Patrício e afins. Não me lixem! Esses saíram para onde lhes davam mais dinheiro. Se ficassem, teriam segurança reforçada (e, provavelmente, mais dinheiro, embora não tanto quanto queriam). Vítimas, aqui, foram o Clube, que ficou com uma fracção do valor deles - e os sportinguistas, que além de um Clube mais depauperado, ficaram com uma faca cravada nas costas.
E nem me chateia que o convidem para a tribuna - é um ex-jogador, um ex-capitão, com títulos conquistados pelo clube. Como outros. Rescindiu para ganhar mais dinheiro? É o mundo que temos, deixem-no lá estar na tribuna.
Damas alinhou por outros clubes em Portugal, mas nenhum dos rivais. Aliás, é João Rocha quem o coloca em Espanha (Santander) não conseguindo cobrir uma proposta do FC Porto, que já tinha desviado 2 jogadores do Sporting (WikiSporting). Patrício, mais dia menos dia, vai ser um troféu dos nossos rivais. Há-de chegar o dia, em que o "el capo" de Carnide ou o seu homólogo das Antas precisarão de fazer uma contratação badalada. Aliás, para mim esta passagem pelo clube do amigo chinês de Jorge Mendes é apenas uma ante-câmara disso.
Patrício, símbolo do Sporting? Ao nível de Damas? Não nos rebaixemos. E, sobretudo, saibamos honrar Damas.
Por tudo isto, Max, faz um favor aos sportinguistas e a ti mesmo: vê mais jogos e procura mais inspiração em Damas do que daquele de quem hás-de herdar as luvas da Selecção.