Nada de essencial se resolve por colocarmos mais um treinador na porta de saída. Faz agora um ano, sucedeu com Peseiro: opiniões sem fim de adeptos a exigirem o despedimento do único treinador que aceitou treinar o Sporting no rescaldo imediato do assalto a Alcochete e da debandada de nove jogadores.
A saída dele (quando o Sporting ia a dois pontos do líder do campeonato) solucionou alguma coisa?
Não há regra absoluta. Em 1999/2000 teríamos sido campeões se o Inácio não tivesse substituído o Materazzi? Provavelmente não. Na época passada, o Benfica teria sido campeão se o Bruno Lage não tivesse ocupado o lugar do Rui Vitória? Provavelmente não.
Keizer é um treinador medíocre; corrijo: péssimo! Teria muito a aprender - se a isso se dispusesse! - com qualquer dos técnicos da formação dos principais clubes em Portugal quanto a processos de jogo. Quase um ano depois, contra equipas razoáveis nem um bloco baixíssimo à maneira de "equipa pequena" nos põe a cobro de sofrer golos ridículos. E que dizer de processos ofensivos em que o jogador que tem bola não sabe o que lhe fazer e os que não a têm não fazem a mais pálida ideia das movimentações que devem realizar para a receber/trocar?
Dar mais tempo a Keizer é pura estultícia (ou crime de lesa-Sporting). Mas também a quem o escolheu. Frederico Varandas não dá uma única para a caixa. Tão impressionante quão deprimente.
Releia o seu parágrafo final. Há um ano, provavelmente, escreveu o mesmo sobre Peseiro. Estas caixas de comentários recordam esse tempo. Resultado: o homem foi corrido ao fim de quatro meses quando o Sporting ia a dois pontos do primeiro lugar.
Valeu a pena?
Por acaso agora o Sporting também segue a dois pontos do primeiro. Quer que a história se repita? Quem aceita treinar um clube que despede um técnico, em média, de nove em nove meses?
Uma coisa é criticarmos os treinadores. Outra coisa é, ao mínimo desaire, exigirmos que sejam corridos. Vão dezassete em dez anos.
Se as chicotadas psicológicas produzissem efeito, o Sporting era campeão oito vezes por década.
Já tivemos esta conversa, Pedro. Deitei as mãos à cabeça e protestei vivamente quando o Sousa Cintra informou que o treinador seria o Peseiro. O histórico dele não aconselhava contratá-lo. As coisas tinham dado para o torto por todo o lado onde passara desde 2005. Depois disso, nem tanto.
O meu ponto é que não devemos ajuizar em abstracto. Há substituições de treinadores - não gosto da expressão "chicotada psicológica" pela simples razão de que o que um bom técnico traz a uma equipa é muito mais do que simples "motivação" - a meio da época que produzem bons efeitos, como há outras que são pior a emenda que o soneto.
Julgando concretamente o senhor Keizer (não por um desaire, mas pela incapacidade de imprimir na equipa uma ideia decente de jogo, seja a atacar, seja a defender), é um péssimo treinador. Um péssimo treinador não tem lugar no Sporting. Em que ano ou altura da época for. Não há que ter receio de despedir quando a incompetência se torna gritante.
Acresce o seguinte. Pode ter a certeza de que não faltarão bons técnicos dispostos a treinar o Sporting na eventualidade do actual treinador sair. Por todas as razões e mais esta: não é difícil fazer boa figura no rescaldo de um consulado técnico de qualidade "abaixo de cão."
São todos péssimos treinadores, meu caro. Nem um, para amostra. Até Paulo Bento, o que treinador que mais troféus venceu no Sporting nas últimas décadas era "péssimo", segundo o que diziam e ainda dizem muitos adeptos. Não faltou no Sporting quem festejasse a saída dele, vai fazer dez anos.
Você não gosta da expressão "chicotada psicológica". Eu também não gosto - nem da expressão nem da realidade. Pelo que las hay, lay hay. E no Sporting são imensas. Conhece alguma, no século XXI, que tenha dado certo? Eu não.
Para nos situarmos, reproduzo a lista dos treinadores do Sporting neste novo milénio: 1. Fernando Mendes (2000-2001) 2 meses 2. Manuel Fernandes (2001) 5 meses 3. Laszlo Bölöni (2001-2003) 2 anos 4. Fernando Santos (2003-2004) 1 ano 5. José Peseiro (2004-2005) 15 meses 6. Paulo Bento (2005-2009) 4 anos 7. Leonel Pontes (2009) 2 semanas 8. Carlos Carvalhal (2009-2010) 6 meses 9. Paulo Sérgio (2010-2011) 9 meses 10. José Couceiro (2011) 4 meses 11. Domingos Paciência (2011-2012) 7 meses 12. Sá Pinto (2012) 8 meses 13. Oceano Cruz (2012) 3 semanas 14. Franky Vercauteren (2012-2013) 2 meses 15. Jesualdo Ferreira (2013) 4 meses 16. Leonardo Jardim (2013-2014) 1 ano 17. Marco Silva (2014-2015) 1 ano 18. Jorge Jesus (2015-2018) 3 anos 19. José Peseiro (2018) 4 meses 20. Marcel Keizer (2019- ) 9 meses, até agora
Esta lista diz tudo: mais de um treinador por ano. Só três (Boloni, Bento e Jesus) estiveram mais de uma época. Em todo este tempo, com toda esta gente, só conquistámos um campeonato. .
É tópico para outra altura, mas gostava de ver Jesualdo de volta ao Sporting. Percebe imenso de futebol, potenciaria o seu esquema táctico preferido, o 4-3-3, que beneficia as características de Bas Dost e teríamos uma aposta sustentada na formação. Relembro que lançou Zezinho, Fokobo e foi ele que percebeu que Dier rende mais a médio defensivo do que a central.