Não era fácil
Que o jogo de ontem não era fácil, toda a gente sabia. Havia, aliás, já por aí o grupo dos habituais engraçadinhos a esfregar as mãos à espera da goleada, para depois virem com a conversa de que o Sporting na Champions é a vergonha da pátria e mais não-sei-quê. Bem, ao menos por uma noite calaram-se.
O jogo de ontem era, evidentemente, para perder. Do empate para cima já era um grande resultado. Mas não era essa a principal razão porque o jogo não era fácil. A principal razão das dificuldades era a forma como o Sporting o devia encarar. O Sporting é um grande em Portugal (em convalescença, na verdade...) mas está muito longe de o ser na Europa da actualidade (como aliás Benfica e Porto, por muito que eles se recusem a vê-lo). O dilema para ontem era: dar uma de Arouca ou Moreirense da Europa e plantar o autocarro à frente da grande área, ou jogar "à grande". O Sporting optou pela última hipótese. Na primeira parte a coisa pareceu um completo erro de casting, talvez até porque, perante os Oscar, Willian, Fábregas e Diego Costa desta vida, os jogadores devem ter achado tudo muito estranho. Mas depois de um golo estúpido ter-lhes-á passado pela cabeça que era inglório perder assim e libertaram-se. O resultado foi o domínio do jogo até ao fim (a posse de bola era 55%-45% até ao golo, acabou em 51%-49%), correndo o risco de golos no contra-ataque.
Mourinho é o mais cínico dos grandes treinadores e isso viu-se ontem outra vez. O golo é marcado em consequência de uma "ratice" (falta marcada rapidamente, quando a defesa ainda não está posicionada, bola para a carola do grandalhão e pimba!) e todas as famosas grandes defesas de Patrício são resultado de jogadas de contra-ataque. Depois do golo, Mourinho decidiu jogar "à Arouca" (mas com executantes de nível estratosférico, claro): defesa compacta e pontapé para a frente e para as costas da defesa muito subida, à espera da corrida do Diego Costa. Mourinho nunca teve problemas em jogar assim, e os seus autocarros são lendários, como aquela inacreditável meia-final do Inter com o Barcelona em que praticamente entregavam a bola ao Barcelona para eles rodarem no seu estéril tiki-taka.
O Sporting fez bem em jogar como jogou? Vendo bem, acho que sim. Perder (como quase inevitavelmente aconteceria)plantando o autocarro não teria glória nenhuma. Assim, a gente no estádio e em casa ficou alegre. E ficou a dúvida até ao último minuto sobre se o Sporting não empataria. Não empatou mas ganhou a comunhão com os adeptos.