Não aguenta um cara-a-cara
Rogério Alves - e muito bem, a meu ver - concedeu a Bruno de Carvalho a possibilidade de intervir na assembleia geral de amanhã, na qual os sócios do Sporting se pronunciarão sobre o recurso à pena de expulsão aplicada ao antigo presidente pelo Conselho Fiscal e Disciplinar. Cedendo assim a uma exigência expressa do sucessor de Godinho Lopes.
Como é seu hábito, Bruno de Carvalho afinal recusa comparecer, reagindo com a táctica habitual dos que não aguentam um cara-a-cara: em contínua fuga para a frente, desta vez disparando contra quem lhe concedia a palavra. Segue assim uma linha de rumo: nos momentos cruciais, mesmo naqueles que lhe dizem directamente respeito, fica atrás dos reposteiros, primando pela ausência.
Foi assim a 4 de Fevereiro de 2018, quando evitou deslocar-se ao campo da Amoreira, onde o Sporting entregou o campeonato nacional com uma derrota humilhante (e justa) perante o Estoril. Ele não estava lá.
Foi assim a 5 de Abril de 2018, quando decidiu não acompanhar a nossa equipa a Madrid, para o jogo da primeira mão dos quartos da Liga Europa frente ao Atlético, que participara em duas das três finais anteriores da Liga dos Campeões: preferiu ficar em casa, desancando os jogadores via Facebook, em vez de lhes incutir ânimo, como faria um verdadeiro líder.
Foi assim a 13 de Maio de 2018, quando optou por ficar em Lisboa enquanto o Sporting disputava com o Marítimo, no Funchal, um desafio de má memória que nos fez descer ao segundo posto do campeonato, por troca com o pior Benfica do último decénio, dizendo adeus aos milhões da Champions. A equipa perdeu e o presidente não estava lá.
Foi assim a 20 de Maio de 2018, quando voltou a ficar recolhido em casa, sem assistir - como lhe competia - à final da Taça de Portugal disputada no Jamor. Uma final que perdemos, num contexto de total desmoralização, cinco dias após o assalto dos jagunços a Alcochete. Era um momento particularmente difícil e doloroso, que exigia uma atitude de liderança: Bruno de Carvalho foi incapaz de a exercer. Pelo contrário, na véspera dessa final, entretinha-se a vergastar os jogadores na sua rede social predilecta, anotando: «Houve atletas do Sporting que, infelizmente e pelo seu temperamento quente, não conseguiram aguentar aquilo que é a frustração dos adeptos.» Quase como se os apontasse, delirantemente, como autores morais das agressões contra eles próprios.
Foi assim a 23 de Junho de 2018, quando recusou participar na histórica assembleia geral que haveria de destituí-lo por larga maioria, indiferente às provocações e aos insultos da tropa arruaceira. Chegou no fim, pela porta das traseiras e acompanhado da habitual guarda pretoriana, quando o pavilhão estava quase despovoado e já nada havia para debater. Essa tardia aparição deveu-se apenas à convicção errada de que ganharia. Enganou-se profundamente: perdeu, em todas as mesas de voto. E lá regressou rapidamente às quatro paredes domésticas, correndo ao Facebook - desta vez para insultar os sócios no remanso do lar.
Foi assim a 15 de Dezembro de 2018, em que primou novamente pela ausência na assembleia geral que ratificou a sua expulsão de sócio, apesar de lhe ter sido concedido o direito de participação e intervenção, mesmo estando suspenso. Enviou para o terreno a irmã, o pai e uma ruidosa falange de apoio, apostada em perturbar ao máximo a assembleia magna leonina. De nada lhe valeu o manhoso estratagema: os sócios, uma vez mais, não se deixaram condicionar.
Uma vez mais se comprova: é incapaz de enfrentar adversidades, e de agir em coerência, nos momentos decisivos, com o discurso incendiário que foi cultivando durante cinco anos. Mesmo quando o assunto lhe diz respeito, como parte interessada, foge de um confronto directo e presencial.
No final, o padrão de sempre: há-de irromper nas redes sociais, com as inconsequentes bravatas verbais já de todos conhecidas. Valem o que valem: nada.