Não acertam uma
Andam a celebrar a data dos 75 anos da fundação e o director quase vitalício do jornal até já verteu uma lágrima em editorial, revelando ter passado a condução efectiva do funcionamento do plantel jornalístico a outra pessoa, cujo nome ainda não vem impresso no cabeçalho.
A verdade, porém, é que o diário A Bola vive uma das suas piores fases de sempre. Muito longe dos dias de glória que conheceu nas décadas de 60, 70 e 80, quando integrava uma das melhores equipas redactoriais existentes no País. Lamento que isso ocorra com Vítor Serpa - um dos sobreviventes desse tempo - ainda ao leme nominal da publicação.
Esta degradação tornou-se bem visível em duas capas bem recentes.
A primeira, a 30 de Dezembro de 2019, quando A Bola garantia com letras garrafais, ao longo de quase toda a mancha gráfica da primeira página, que havia três jogadores prestes a ser excluídos do plantel leonino, claramente desvalorizados. Razão? «SAD do Sporting forçada a rever em baixa preços de alguns dos principais activos.»
E lá vinham os nomes com os respectivos preços, sob o lamentável título genérico "Saldos de Inverno": Coates por 7,5 milhões de euros, Acuña por 12,5 milhões e Wendel por 20 milhões. Justificação para tais "saldos": «Problemas financeiros obrigam administração a rever estratégia para o mercado».
Era mentira, claro. Como os factos vieram a demonstrar. Mas foi quanto bastou para muitos adeptos do Sporting replicarem a "notícia", atribuindo-lhe uma credibilidade que nunca teve.
Há dias, a 7 de Fevereiro de 2020, surgiu nas bancas outra capa do referido jornal com idêntica credibilidade: nenhuma.
O mesmo destaque gráfico, a mesma atenção ao Sporting pela negativa, o mesmo grau de veracidade: zero.
A manchete pretendia ter precisão aritmética: «3 Sim, 2 Não». Garantindo aos incautos leitores: «Continuidade de Frederico Varandas à frente dos leões em perigo.» Porquê? «Maioria dos membros da MAG aceita realização da AG destituitiva.»
Ontem o país desportivo ficou a distinguir o boato da realidade: decisão unânime da Mesa da Assembleia Geral leonina contra uma reunião magna destinada a destituir os órgãos sociais. A Bola demonstrou estar mal informada. E chumbou a matemática.
Apesar disso, novamente muitos adeptos atribuíram validade à pseudo-informação, replicando-a nas redes sociais. Como se não fosse mercadoria adulterada.
O periódico da Queimada vai eclipsando assim, manchete a manchete, o pouco que ainda resta do prestígio acumulado noutras eras. Longe do brilho de outrora, dando passos cada vez mais largos a caminho da decadência que ameaça tornar-se irreversível.