Na morte de Mário Coluna
Já estava muito debilitado na última aparição pública, a 5 de Janeiro, quando reagiu à morte de Eusébio, seu companheiro no Benfica e na selecção nacional. Há pouco surgiu-nos a notícia, da capital moçambicana: Mário Coluna morreu esta tarde, aos 78 anos.
Está de luto o Benfica, clube que Coluna serviu durante 16 épocas, de 1954/55 a 1969/70, e do qual foi um dos maiores símbolos de sempre, ao sagrar-se campeão nacional por dez vezes e vencedor de duas taças dos campeões europeus, nas quais marcou golos que ajudaram a projectar o futebol português além-fronteiras.
Está também de luto o conjunto do futebol nacional, além do desporto-rei de Moçambique, de onde Coluna era natural. Porque ele não foi só craque do Benfica: foi também um dos mais prestigiados capitães de sempre da nossa selecção. Vestiu 57 vezes a camisola das quinas e marcou oito golos com as cores nacionais. O seu maior título de glória acabou por ser a subida ao pódio máximo do futebol planetário, em 1966, quando nos classificámos em terceiro lugar no Campeonato do Mundo realizado em Inglaterra.
Praticava um futebol de inegável classe, como médio ofensivo e organizador de jogo. Com grande poder atlético, inesgotáveis recursos técnicos e uma combatividade que nunca foi contaminada pelo antijogo: era campeão sem deixar de ser um cavalheiro. Depois do Benfica jogou no Olympique de Lyon, vindo a terminar a carreira como treinador-jogador do Estrela de Portalegre, da III Divisão, na época 1971-72.
Ainda muito miúdo, tive o privilégio de o ver jogar ao vivo, na recta final da carreira. Num tempo em que sportinguistas e benfiquistas sabiam confraternizar e admirar jogadores de outras equipas sem perder a saudável rivalidade clubística. E em que considerávamos cada jogador da selecção também um dos nossos.
É com o profundo respeito que sempre mantive por ele, e que foi crescendo com o rodar dos anos, que me inclino perante a memória de Mário Esteves Coluna. Um dos maiores nomes de sempre do desporto lusófono. Moçambicano, português, cidadão do mundo. Conquistador em vida de um merecido lugar na História.