Moura Guedes?
O canal de televisão SIC tem na sua programação durante o telejornal das oito de segunda-feira, o comentário de Manuela Moura Guedes. Não vem ao caso se concordo ou não com as apreciações que vai entendendo por bem fazer sobre tudo e mais um par de botas (para que conste, em regra não), o que vem ao caso é que a senhora tem naquele espaço o epíteto de "A Procuradora", onde zurze a seu bel-prazer em quem bem entende, sem o incómodo do contraditório. Ora vem Moura Guedes e a sua rúbrica a propósito de umas imagens que por aí andam a circular sobre um interrogatório (?) feito pela Procuradora Cândida Vilar a Fernando Mendes, ex-líder da JuveLeo, na sequência do ataque à academia de Alcochete.
Quem me lê sabe o que penso das claques e por maioria de razão da JuveLeo e do seu modus operandi dos últimos largos anos, portanto dispensêmo-nos de questionar a minha condenação aos actos praticados naquele dia, nos dias anteriores e nos posteriores.
O que quero aqui trazer, mais uma vez, à discussão é a forma como é tratado um suspeito num processo, em interrogatório. Não gostei de ouvir a forma prepotente como Cândida Vilar interroga(?) Fernando Mendes, fazendo a pergunta, dando ela própria a resposta e fazendo, logo ali a acusação. Não encontrei o vídeo (encontrei, está aqui) para o poder apresentar aqui, para poderem apreciar o estilo pidesco em que é feito o interrogatório. Não, não quero que uma procuradora da República se desfaça em salamaleques perante um suspeito de um crime, seja ele qual for, mas também quero que quem representa o Estado, garanta que um qualquer indiciado seja tratado com civilidade e respeito. A justiça não pode funcionar na base do olho por olho, ao comportarmo-nos como um criminoso (num interrogatório ou noutra qualquer situação), não estamos a aplicar a justiça, estamos, outrossim, a proceder da mesma forma que quem está do outro lado, ainda que, e sempre, presumivelmente inocente.
A seguir a prisões estuporadas, o conhecimento deste interrogatório deverá fazer que pensar aqueles que se preocupam com a justiça neste país. Não vale tudo! Cândida Vilar não pode ser a Moura Guedes da justiça. A justiça não é um espectáculo televisivo!