Memórias do Tottenham
A 29 de Dezembro de 1981 não havia muita gente no Estádio José Alvalade para ver o Sporting jogar, mas eu estava lá com o meu irmão e o meu pai que, do nada, nos levava de vez em quando ao estádio. Bilhete de superior para o meu pai, eu tinha 11 e o meu irmão 12 e entrávamos sem pagar. Uma torrente de chuva miúda, chata, persistente, fria como o medo encharcava-nos até aos alvéolos, até que alguém se lembrou de abrir a central – a tal da pala – e lá nos abrigamos todos. Foi a primeira vez que vi futebol no Estádio do Sporting numa central. No marcador rudimentar que havia ali pelo peão, mesmo em frente da central, quem soubesse ler ficava a saber que o Sporting jogava contra o THFC, vulgo Tottenham Hotspur.
A mim fazia-me alguma confusão que um clube equipasse de branco, mas a presença de Osvaldo Ardiles, que conhecia bem da seleção argentina campeã do mundo, é que nos entusiasmava mais. Há mais história sobre este jogo a feijões no (ótimo) livro Big Mal & Companhia, de Gonçalo Rosa, que fala dessa nossa época, uma das mais vencedoras e divertidas. Nunca mais esqueci o THFC, como nunca mais esqueci o Dínamo de Zagreb a quem Oliveira marcou três.
Agora é Zé Mourinho quem chega ao Tottenham onde, como se ouvia ontem no Canal 11, é capaz de ter um plantel melhor que aquele que havia em Manchester. Que JM faz falta ao futebol é evidente, mas o Mourinho mindgames, queixinhas e provocador faz menos falta que o Mourinho arrojado, próximo da relva e dos jogadores, que mete as equipas furiosamente à procura do golo na outra baliza. Que se abram então as portas para esse Mourinho, como se abriram as que nos levaram à central naquela noite de Dezembro. Acreditem que ficamos melhor.
P.S. - O Sporting ganhou o jogo por 3-2.