Mediocridade
Ao cabo de 50 anos de bancada mal seria se me achasse capaz de saber o que faria se estivesse no banco, mas lá vou sabendo uma ou duas coisas sobre o que vejo do meu lugar.
Sinto-me por isso em condições de finalmente considerar que Keiser é um treinador medíocre. O adjectivo justifica-se pelo facto de Keiser ter um entendimento substantivamente medíocre do futebol. Em 3 jogos oficiais aplicou 3 vezes a mesma receita. E foi ela a de entrar em campo com uma qualquer marosca táctica que intrigue o adversário. Isto durou 15' contra o benfica, 20' contra o Braga, infelizmente e segundo as próprias palavras do treinador, apenas se aguentou 6'30'' contra o Marítimo. Só ontem a astúcia produziu algum resultado - marcaram-se 2 golos nesse período - posto o que se passou à fase B que foi a de pôr um autocarro à frente da baliza, chutar a bola para longe, desejar boa sorte a Renan e rezar um pai-nosso. Esta doutrina é muito útil ao Águias de Alpiarça em jogos da Taça contra as equipas mais evoluídas da 2ªB, mas pouco interessante, digo eu, para o Sporting.
É certo que alguns conceitos correntes do futebolês são brilhantes à mesa do café e dão aura de entendido a quem deles se alivia, mas não têm qualquer correlação com a realidade do jogo. O famigerado "modelo", a sempre refrescante "ideia de futebol" e os sudokus estratégicos fazem as graças do comentariat, dão powerpoints coloridos e sedutores, embora não passem de lucubrações platónicas, abstractas e vácuas, mesmo quando se usa esse novo termo da "definição", em vez do proverbial "chuta à baliza, porra". Porque ao fim do dia o que conta é a dinâmica que a equipa põe em campo, o modo como se entrosa e articula e, sobretudo, a capacidade de um treinador em extrapolar o melhor que um jogador tem para oferecer ao jogo. Neste Sporting tudo isto é mirífico.
É escusado recorrer ao exemplo óbvio de Diaby para ilustrar a mediocridade congénita de Keiser. Especular-se-á infinitamente sobre este mistério, mas sempre ficará por responder a questão: porque diabo esteve ele uma hora em campo?
Tome-se como menos óbvio mas talvez mais flagrante o caso de Doumbia. O ano passado andava por ali aquele rapaz Gudelj mestre no posicionamento, nulo no movimento. Este ano vemos actuar aquele jovem com alma de Bombeiro Voluntário, que corre à maluca atrás de todos os fogos e que nunca volta à posição porque não a tem. Resultado: Coates e Matthieu andam a levar de frente com sucessivas cargas de cavalaria. Ora Doumbia, potencial e vontade não lhe faltam, não evoluiu um milímetro em inteligência posicional e táctica desde o ano passado, coisa que se treina todos os dias e vê-se aqui da bancada ao fim-de-semana. E se não evoluiu é porque Keiser não o faz evoluir.
O nosso treinador deve estar mais preocupado em engendrar a artimanha para o próximo jogo, que ele designa como "fine tunning." Pode ser que dure uns 30' antes de passarmos o resto do desafio à beira de sermos esmagados por um qualquer mija na escada que, descoberto o truque, há-de de crescer sobre este Sporting como um Liverpool.