Matriz - parte II
parte I
Repete, ali, na nossa rua, uma e outra vez, que o Presidente, este, o Frederico Varandas, é mesmo doutor, daqueles que nos tiram as dores, não dos que n[o-l]as dão, já disse que o Bruno Fernandes não sai por 35 milhões. É, por estes dias, a sua grande e recorrente aflição, a iminente saída do nosso capitão. E o outro afinal é doutor de quê? Eu ainda gostava de saber do que é que o outro é doutor. Palavra de honra que me passou pela cabeça que o Johnny seria leitor do És a Nossa Fé e que o seu telemóvel não serviria, afinal, só para dar uso aos auscultadores, para tirar fotografias ao autocarro do Sporting, de cima do viaduto – mesmo ao lado do Continente – onde esperou horas, e à chuva, para vê-lo passar a caminho do Municipal de Portimão; afasto a ideia, mas não esqueço a possibilidade.
Ainda está muito zangado, o Johnny. Zangado, com o outro. Culpa-o pela saída de Rui Patrício, que – claramente – idolatra. Um rosário de elogios é o que lhe oiço. Acha-o, ao outro, culpado pelo desencontro com o Coentrão, que é mesmo dos nossos, é que é mesmo Sportinguista, o Fábio. Sinto-lhe a zanga na voz, muda de tom, sobrepõe-se a exaltação que se avoluma exponencialmente quando fala de Alcochete. Diz-me que no dia seguinte se apresentou ao serviço, de camisola preta. Que estávamos de luto e que os colegas não têm nada com isso, que isto são dores só nossas. Bateram nos nossos jogadores… voz embargada, zangado e de dedo em riste, convicto de que há um culpado que ainda vai pagar pelo que nos fez. Acha que a Judiciária - que anda em cima dele, ai anda, anda! - ainda vai encontrar provas inequívocas que dêem forma indesmentível aos seus sentires. E uma correspondência punitiva que, dificilmente, arrisco eu, serviria para atenuar-lhe a(s) dor(es).
Dificilmente, serviria, sei eu, para diminuir a que fui sentindo ao longo de tanto tempo.
Interrompe-me, quando lhe conto a interacção que tive, na fila, à espera para entrar no Pavilhão João Rocha, com a consócia - 35 anos de vida associativa - que ancorou a decisão de se opor à expulsão de sócio do anterior presidente, à convicção de que, ao contrário de todos os outros, este, não nos roubou.
Não nos roubou!? Não nos roubou!? Roubou!, roubou! Roubou-me andar com a cara limpa à frente dos andrades [um dos colegas é fervoroso adepto do clube nortenho mais popular em Portugal] e dos lampiões. Eu, quero ganhar de forma limpa! Eu, não quero cá troféus que não ganhámos de forma limpa. Eu, tive que os aturar dias a fio. E tenho que os aturar, que ainda me jogam isso à cara. E agora, vão jogar isso à nossa cara para sempre. Ainda pensei que tinha de lá ir eu que ele não desagarrava o lugar. Era uma força que a gente tinha, dizer que o Sporting, só joga e ganha limpo. E envergonhou-me. E ele é que diz que tem vergonha da gente!? E os milhões que a gente perdeu com as transferências, com as rescisões?
Digo-lhe que, por agora, temos de dar tempo à Justiça, que o que havia a fazer, dentro do Clube, já foi feito. Pergunta-me se ouvi o discurso da consócia irmã do ex-presidente (sempre bem informado, o JC), digo-lhe que não, que entrei depois. Eu pensei logo que ia lá votar – diz-me, contente. E que depois me contava. Eu não posso ir lá votar, - encolhe os ombros - não sou sócio.
E conto, JC. Só (ainda) não lhe contei que me apresentei – inadvertidamente – de tesoura de escolinha primária na carteira, mas de resto, conto-lhe os pormenores todos de que me lembrar.
[continua]