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És a nossa Fé!

Jorge Jesus para o futuro?

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Há exactamente um ano o Pedro Correia colocou aqui um rescaldo muito positivo sobre a actual presidência, com o qual concordo e que considero ainda actual. O clube está muito melhor, tal como melhor está o futebol sénior, a sua actividade central. Para isso concorreu, também, uma acertada política de contratação de treinadores. Jardim é uma unanimidade, até nacional, e só se pode lamentar que tenha decidido, muito legitimamente, seguir a sua carreira no estrangeiro. Silva é um bom treinador, ainda que não tenha encontrado o registo adequado à concertação com o clube. E Jesus é um bom treinador, por mais críticas que surjam, como é natural face aos treinadores dos grandes clubes, principalmente quando não são campeões (e mesmo quando o são). E sendo notório que os adversários de Bruno de Carvalho (uma minoria muito activa, o que é saudável para o clube, pois "o que é preciso é que se fale, mesmo que seja ... bem") insistem em dizê-lo totalmente inadequado, forma de atacarem a presidência, a qual, e com denodo e competência, sempre se colocou totalmente ao lado do treinador. Há quem isso critique, dizendo que Bruno de Carvalho assim se deixou aprisionar pela figura do treinador. Não. Essa foi a melhor forma, assim óptima, de o apoiar e de em seu torno congregar o afã sportinguista. 

Dito isto penso que cumprido o triénio de Jesus o "fim de ciclo", como António de Almeida disse, se apresta. Tenho 53 anos, durante os quais o Sporting ganhou 7 campeonatos. Um ciclo de duas décadas sem vencer, após um outro ciclo similar, seriam letais para qualquer outro grande clube. Não o foram nem o são no Sporting, o que mostra a grandeza da adesão leonina. Mas mostram que perder três campeonatos não é excepcional. Ou seja, não será por isso que devemos apontar o dedo ao treinador. Interessa sim ponderar se o seu contributo é positivo para ultrapassar esta situação estrutural. Assim sendo a sensação de "fim de ciclo" não vem dos três campeonatos perdidos. Mas também não se resolverá com um ou outro troféu, por mais apetecível que este seja. Por exemplo, uma muito pouco provável vitória na Liga Europa seria imensamente entusiasmante, mas mesmo essa não deveria impedir uma reflexão sobre o futuro próximo. 

A questão é se o processo de aproximação do Sporting aos dois crónicos campeões está num bom rumo. Ela foi inequívoca, e em condições extremamente difíceis, nos três primeiros anos com Bruno de Carvalho (sob Jardim, Silva e Jesus). Mas é notório que nos dois anos seguintes (sob Jesus) ela não tem continuado, em termos de resultados e em termos de imagem pública, de qualidade futebolística. Há quem aponte que a equipa faz muitos pontos, que noutros momentos seriam suficientes para as vitórias. É um argumento vácuo, pois o campeonato está mais desigual, os clubes regionais mais pobres e frágeis, com excepção do Braga. O notório neste caso é que o Porto reergue-se ainda que sob enormes constrangimentos económicos e já liberto da tentativa de "união ibérica", a que tinha recorrido exactamente devido a essa crise. E que o Benfica se sedimentou, apesar da monumental dívida que obriga a desinvestimentos e de erros crassos (como a rábula dos guarda-redes desta época) e, inclusivamente, soube reinventar o seu futebol neste ano - pode custar muito aos mais indefectíveis mas Rui Vitória é muito credor de respeito pelo rearranjo técnico-táctico que fez a meio do ano. Porque nem tudo se deve aos árbitros ...

Ou seja, o clube e o seu presidente tudo deram a Jesus. A tal "estrutura", o aumento de orçamento, o apoio público (e do público) constante. E a mudança de plantel. É de lembrar que Jesus fez a sua melhor época em Alvalade com um plantel que não fora constituído por ele, que o considerou insuficiente, que o transformou enormemente. E que apesar dessa mudança o processo de crescimento, seja em termos de triunfos seja em termos de qualidade futebolística, não prosseguiu.

Por outro lado há os efeitos da personalidade de JJ. "Pela boca morre o peixe ..", diz-se. O seu tom abrasivo, "antes de mim o Caos, comigo o Verbo", promoveu uma acréscimo de crença, induziu um crescimento do suporte dos adeptos, encheu de modo continuado o estádio e o apoio à equipa onde ela fosse. Mas as derrotas e o cinzentismo futebolístico não casam com este "me, myself and I" de JJ. Muito dificilmente, por maior que seja o fervor clubístico, a massa adepta aderirá nas próximas épocas com a mesma intensidade ao apelo de uma equipa de JJ.

Finalmente, a marca d'água do clube é a sua formação. Infelizmente não tanto a do seu departamento de pesquisa (os "olheiros", isso que agora os novos-ricos chamam de "scouting" muito orgulhosos por falaram inglês). Houve uma notória inflexão. Para JJ, e talvez acertadamente, a capacidade de ganhar títulos implicava mais do que o centramento no aproveitamento da formação, exigia uma mudança de paradigma. Quando Bruno chegou ao poder um enorme problema era o de que os jovens jogadores, muitos já apressadamente lançados, não tinham contratos que protegessem o clube (Dier é um caso gritante, julgo que Bruma também). Uma das primeiras tarefas que Bruno cumpriu foi blindar os jovens jogadores (lembram-se como os adversários o gozavam por causa dos montantes das cláusulas de rescisão? agora habituais ...). Isso foi salvaguardado mas no consulado de Jesus é evidente a preferência por jogadores mais experientes (o caso de Ruben Ribeiro para mim é terrível exemplo). Sem triunfos a comprovarem a justeza desta via, com os constrangimentos económicos sabidos, sem acesso à Liga dos Campeões (que será nos próximos anos ainda mais difícil), seus financiamentos e efeitos na visibilidade mercantil dos jogadores, julgo que esta via está condenada. Por impossibilidade económica. 

Com tudo isto julgo que o modelo "Jorge Jesus", por mais acertada que tenha sido a aposta, e por mais competências, inegáveis, que o treinador tenha, não tem muito espaço para perdurar. Trata-se agora, para além de apoiar a sua equipa e esperar algum triunfo, de tentar encontrar "the next big thing" (para falar inglês, como os tais novos-ricos). Um bom treinador, que potencie o modelo Sporting. Sob esta dadivosa e competetente direcção. E, entretanto, sem "lenços brancos", factuais ou simbólicos, para um treinador que nos entusiasmou, fez congregrar e crer.

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