Jogar à campeão com lotação esgotada
Sporting, 3 - Portimonense, 0
Bancadas festejam, jogadores agradecem apoio, claques aplaudem sem reservas: festa foi bonita
Foto: Rodrigo Antunes / Lusa
Este foi o jogo da consagração. O jogo do título. O jogo que permitiu desfazer as definitivas dúvidas. O jogo que nos manteve invictos no nosso estádio durante toda a temporada 2023/2024. Proeza notável, associada a tantas outras que ainda se mantêm em aberto. Poderemos registar também a nossa melhor pontuação de sempre num campeonato. E o maior número de vitórias nesta prova.
E chegar ainda aos cem golos marcados - objectivo difícil, mas não impossível.
Passámos a ter 92 após esta recepção ao Portimonense que terminou com três golos sem resposta. Com outra exibição de encher o olho num estádio José Alvalade que quase transbordou: havia 49.557 espectadores. Sinal de comunhão perfeita entre adeptos e equipa - mérito inequívoco do presidente Frederico Varandas neste Maio do nosso contentamento. Tão diferente daquele triste Maio de 2018, quando o Sporting bateu no fundo. Foi só há seis anos, mas parece ter sido há uma eternidade. Felizmente.
Faz hoje oito dias que se disputou esta partida. Que terminou em vitória, que culminou em euforia com a certeza de termos garantidos 84 pontos, mas faltava a cereja em cima do bolo: viria no dia seguinte, quando o Benfica foi ao tapete em Famalicão, onde exibiu péssimo futebol e sofreu derrota por 2-0.
Só nesse domingo, dia 5, o povo leonino saiu à rua em genuína e espontânea celebração do título. O 24.º campeonato nacional de futebol da nossa história. O segundo desta década. O segundo da era Amorim, já hoje um dos mais bem-sucedidos treinadores do Sporting Clube de Portugal.
Foi, portanto, festejo a dois tempos. Um em nossa casa, há uma semana. Outro na noite e madrugada dos dias imediatos. Desejamos muito que esta tarde, no Estoril, aconteça o terceiro marco das celebrações.
A festa assim, em várias etapas, sabe ainda melhor.
O Portimonense apresentou-se em Alvalade com o autocarro estacionado frente à sua baliza, obedecendo à "táctica" do técnico Paulo Sérgio. Mas o ferrolho não tardou a ser arrombado. Logo ao minuto 13, em jogada exemplar de futebol geométrico: centro do veloz Nuno Santos, uma das figuras do encontro, e Paulinho a finalizar sem mácula de pé direito, que nem é o seu mais dotado para a arte futebolística.
Ovação merecida para ambos: foi o 13.º golo de Paulinho no campeonato, foi a 14.ª assistência de Nuno Santos. No minuto 36 a mesma dupla esteve a centímetros de conseguir o segundo, mas desta vez a bola embateu no poste. Havia vantagem mínima ao intervalo. E chegaram até a soar uns absurdos assobios a Coates, quando o excelente capitão leonino temporizava o jogo: há gente que nestes dias não devia sair de casa.
Vantagem ampliada aos 70' quando Nuno Santos voltou a estar em grande ao lançar Paulinho no corredor esquerdo e o colega a recolher a bola quase em cima da linha final antes de cruzar recuado para a grande área onde Trincão - outra das figuras da partida - não perdoou, batendo o guarda-redes Nakamura. Que já tinha negado o golo a Pedro Gonçalves (21'), Gonçalo Inácio (45') e Paulinho (45' e 60').
Mesmo sem Gyökeres a marcar haveria festa rija. Mas foi mais vibrante ainda porque o craque sueco acabou por fazer o gosto ao pé, já no minuto 90'+2. Completando excelente lance protagonizado dentro da área algarvia por Daniel Bragança, que por sua vez fora servido de modo exemplar por um passe teleguiado de Gonçalo Inácio a 30 metros de distância.
Vencemos e convencemos. Uma vez mais. O nosso eterno capitão Manuel Fernandes, com doença grave, não pôde comparecer no estádio. Mas assistiu pela televisão e ficou certamente grato e comovido com a magnífica homenagem prestada pelos adeptos ao exibirem cartolinas com o seu rosto enquanto jovem e ao levantarem-se em aplauso no minuto 9. Em homenagem ao número que o nosso Manel exibiu na camisola nas doze saudosas épocas em que actuou de leão ao peito.
«O sonho será real», lia-se numa tarja da Juventude Leonina.
É verdade: tornou-se real. Fomos campeões. Somos campeões.
Breve análise dos jogadores:
Israel - Jogou tocado e em esforço - viria a saber-se depois. Mas não comprometeu. Aliás nem chegou a fazer uma defesa digna desse nome.
Diomande - Como central à direita, sua posição natural, até parece outro. Muito melhor. Grande corte aos 9'. Cabeceou ao lado num canto (38').
Coates - Com o contrato renovado, o capitão fechou o caminho para a nossa baliza. Aos 17' cabeceou a poucos centímetros do poste. Magnífico passe longo aos 45'.
Gonçalo Inácio - Intervenção directa em dois golos, que começou a construir com passes à distância. O primeiro e o terceiro. Nakamura roubou-lhe golo aos 45'.
Esgaio - Regressou ao onze evidenciando as virtudes e as limitações que bem lhe conhecemos. Melhor momento: bom centro logo aos 4'.
Morten - Cumpriu muito bem a missão de equilibrador do meio-campo leonino. Destacou-se em recuperações de bola (7' e 19', por exemplo).
Pedro Gonçalves - Novamente remetido ao meio-campo, com autorização para deambular entre linhas, quase marcou aos 21': Nakamura impediu-o.
Nuno Santos - Voltou a ser titular. Cumpriu com distinção com uma assistência e uma pré-assistência para golo. Foi sempre seta apontada ao Portimonense.
Trincão - Outro golo para a sua conta pessoal: o nosso segundo, aos 70'. Passe genial a servir Pedro Gonçalves (21'). Pareceu carregado na área, em lance duvidoso (16').
Paulinho - Melhor dos nossos em campo nesta sua centésima vitória de leão ao peito. Marcou o primeiro (13'), assistiu no segundo e ainda enviou uma bola ao poste (36').
Gyökeres - Batalhou como sempre, venceu vários duelos. Acabou premiado: marcou mais um. O terceiro, aos 90'+2. Seu 27.º golo na Liga, 17.º em Alvalade. Um dos reis da festa.
Geny - Entrou para o lugar de Esgaio, aos 68'. Desta vez sem fazer a diferença.
Daniel Bragança - Substituiu Pedro Gonçalves (68'). Assistiu Gyökeres no terceiro golo com domínio perfeito da bola: belíssimo lance técnico.
Morita - Substituiu Morten aos 80'. Refrescando o meio-campo contra um Portimonense inofensivo.
Eduardo Quaresma - Substituiu Diomande (80'). Preciso no passe, atento às incursões na sua ala.
Matheus Reis - Substituiu Nuno Santos aos 89'. Veio de lesão, já não jogava há um mês.