Jesus "sofre com" Vieira
Ao ser contratado para técnico principal do Sporting, em Junho de 2015, Jorge Jesus fez profissão de fé verde-e-branca. Com o sentido de marketing pessoal que lhe é inato e beneficiando do facto de ser o treinador com melhor imprensa em Portugal, reinventou-se em parangonas como sportinguista. Invocou o nome do pai, Virgolino, contemporâneo de Peyroteo e Jesus Correia na época de ouro do futebol leonino, e fez vibrar as emoções dos adeptos prometendo títulos que não chegaram.
Agora, no regresso ao Benfica, adopta o mesmo padrão: a irresistível atracção pelo show off mediático e o culto imoderado da frase demagógica nunca o abandonam. Este é um dos motivos que levam tantos jornalistas a idolatrá-lo: ele proporciona sempre boas frases para enfeitar manchetes.
Mas desta vez foi longe de mais. Ao colar-se sem sombra de pudor ao homem que há cinco anos correu com ele da Luz, o acusou de roubo informático e lhe moveu um processo milionário em tribunal, reclamando 14 milhões de euros.
Vencendo em Famalicão, numa espécie de jogo amigável que não fez esquecer o desastre de Salónica, o sucessor de Rui Vitória, Bruno Lage e Nelson Veríssimo achou por bem dedicar este triunfo ao chefe máximo.
«Todos nós nesta casa estamos solidários com o presidente e sofremos com ele, com a família e os amigos dele. Esta vitória é do grupo todo para ele. Há cinco anos, quando saí, o Benfica já era grande, mas hoje é ainda maior», declarou após o jogo. Com um excesso de zelo que transcende largamente os seus deveres contratuais.
Não havia necessidade. Mas Jesus é mesmo assim: volúvel como o vento, "sofre" sempre entre aspas, sem amor nem apego a camisola alguma. Enquanto vai coleccionando títulos. Pelo menos nas primeiras páginas dos jornais.