Já temos plantel, falta definir o onze
Sporting, 3 - Villarreal, 0 (Troféu Cinco Violinos)
Pedro Gonçalves, muito batalhador e eficaz marcador: novamente o melhor em campo
Foto: António Cotrim / Lusa
Grande espectáculo, grande moldura, grande ambiente, grande jogo, grande resultado.
Conclusão a que cheguei após observação atenta do plantel leonino para 2023/2024: tem qualidade, combina jogadores que se complementam muito bem, faz-nos renascer a esperança na conquista de títulos e troféus.
Falta ainda definir o onze-base da nova temporada. Desde logo porque se fala na chegada iminente de Pedro Neto, do Wolverhampton, por empréstimo. E da possivel vinda de André, do Fluminense.
Não adianto prognósticos, mas se aparecerem ficaremos com uma equipa de luxo. Em todas as posições.
Ontem, em Alvalade, com as bancadas muito bem compostas apesar da hora tardia a que começou o jogo e das dificuldades que milhares de adeptos tiveram para entrar no recinto, os nossos jogadores cumpriram. Tanto com o equipamento tradicional, na primeira parte, como com o equipamento alternativo, na etapa complementar: branco com listas verdes.
Vencemos e convencemos. Desta vez o Villarreal, equipa que se classificou na quinta posição da Liga espanhola 2022/2023 e acabara de empatar 1-1 com o Feyenoord. Agora, em Alvalade, derrotada por 3-0 - a mesma marca do nosso triunfo anterior, frente à Real Sociedad, que ficou em quarto no campeonato do país vizinho.
Balanço destas duas partidas: marcámos seis golos, não sofremos nenhum.
Com a diferença, quanto ao desafio de ontem, que nos valeu um troféu. Um dos que mais estimamos, por motivos óbvios: o Cinco Violinos.
Com 30.103 adeptos nas bancadas - número oficial. Mas a contabilidade peca por defeito: a partir de certo momento, face à enorme procura e à longa espera, os torniquetes foram levantados e deixou de haver registo.
Desta vez Rúben Amorim recuperou sem hesitar o sistema 3-4-3 que introduziu em 2020 no Sporting. Com uma alteração digna de registo: deixámos de sair com a bola daquela forma lenta e facilmente anulável pelas equipas adversárias que estudam bem a nossa. Agora somos mais rápidos, objectivos e aptos a queimar linhas na construção ofensiva, explorando a profundidade. Suprindo uma lacuna que começava a tornar-se incómoda.
Onze inicial ontem em campo: Adán; Eduardo Quaresma, Coates, Gonçalo Inácio; Esgaio, Morita, Pedro Gonçalves, Matheus Reis; Edwards, Trincão e Gyökeres. Principal novidade: a inclusão de Eduardo, elemento da nossa formação.
Outros jovens nascidos para o futebol em Alcochete viriam a actuar mais tarde: Geny, Daniel Bragança e Jovane. Com Rodrigo no banco - outra feliz notícia. Ainda bem.
Ouviu-se O Mundo Sabe Que em modo artístico, ao som de violino real: bom auspício para o que iria seguir-se.
A verdade é que houve alguns lances a pedir música da melhor. Os nossos três golos, por exemplo.
O primeiro, fruto da inspiração individual de Edwards, que pareceu ter despertado da letargia galgando muitos metros com a bola dominada no corredor central e acabou por rematar com êxito após deixar para trás vários adversários. Um quase-golo à Maradona, estavam decorridos 44 minutos. Assim, com 1-0, se foi para o intervalo.
O segundo, obra e graça de Pedro Gonçalves, marcando de pé esquerdo: assim coroou de êxito exibição de classe no corredor central. A veia goleadora dele permanece, agora incentivada por ter nas costas o n.º 8, que pertenceu a Bruno Fernandes.
O terceiro, aos 83', teve assinatura de Paulinho, que saltou do banco aos 53'. Ao primeiro toque, à ponta-de-lança, correspondendo com eficácia a um centro de régua e esquadro de Geny numa boa jogada colectiva iniciada nos talentosos pés de Daniel Bragança. Impecável a jogar de frente para a baliza.
Este Sporting está bem e recomenda-se. Faltam acertos pontuais. Falta recuperar St. Juste, há quase um mês no estaleiro. Falta saber se a lesão de Nuno Santos, ontem ausente do tapete verde de Alvalade, será debelada em breve.
Falta saber se ainda há reforços a caminho.
Falta, sobretudo, ter a certeza de que nenhum dos nossos melhores irá sair. Há um ano, por alturas da terceira jornada da Liga 2022/2023, a partida de Matheus Nunes desestabilizou a equipa ao ponto de ela nunca mais se ter reencontrado.
Nenhum de nós quer que este filme se repita.
Breve avaliação dos nossos:
Adán. Grande defesa aos 24', negando o golo à turma espanhola. Saiu aos 65', cedendo protagonismo entre os postes ao jovem Israel.
Eduardo Quaresma. Titular: prova de que o treinador confia nele. Causou dois calafrios na primeira parte, melhorou na segunda. Até sair, aos 85'.
Coates. O melhor do nosso reduto defensivo, confirmando-se como comandante. Cortes providenciais aos 9' e 48'. Saiu aos 65', entregando a braçadeira.
Gonçalo Inácio. Mais contido do que nos jogos anteriores, sem sair com a bola dominada. Foi capitão entre os minutos 65' e 85'.
Esgaio. Voluntarioso. Bons centros aos 28', 41' e 45'+2. Mas sem fazer a diferença, ao contrário das partidas anteriores.
Morita. Trabalhador incansável, aguentou 90 minutos em campo. Fez de médio defensivo, preocupado sobretudo com a recuperação de bolas. De uma delas nasce o segundo golo.
Pedro Gonçalves. Melhor em campo. Volta a ser o mais influente. Assistiu Edwards no nosso primeiro golo e marcou ele próprio o segundo, aos 72'. Quase repetiu a proeza aos 80'.
Matheus Reis. Subiu de rendimento em relação ao desafio anterior, desta vez actuando como ala esquerdo. Esta subida no terreno potencia as suas melhores características.
Edwards. Parecia alheado do jogo quando pega na bola e galga terreno com ela dominada, dribla vários e marca o nosso primeiro. Inventou golo que mal festejou. Nota artística.
Trincão. Protagonizou grande arrancada aos 9, ceifado em falta - com cartão amarelo para o adversário. Substituído por Daniel aos 65'.
Gyökeres. Combativo, sem fugir aos duelos. Na zona de tiro, obrigou Jorgensen a grande defesa (18'). Sacou um amarelo (22'). Com ele, o futebol leonino fica mais acutilante e vertical.
Geny. Dinâmico, substituiu Esgaio aos 57'. Foi dele a assistência para o nosso terceiro golo. Amorim parece contar com ele.
Paulinho. Ponta-de-lança sem golos é como jardim sem flores. O minhoto, por troca com Edwards (57'), marcou o terceiro (75'). E ainda atirou a roçar a barra (83'). Desta vez cumpriu.
Israel. Substituiu Adán aos 65'. Sem trabalho intenso quase até ao cair do pano. Defesa aparatosa aos 90'+4.
Daniel Bragança. Quem sabe, nunca esquece. Parecendo totalmente recuperado da grave lesão do Verão passado, substituiu Trincão aos 65'. Inicia construção do terceiro golo.
Diomande. Mostrou o que vale - e é muito. Em cortes e recuperações, como central improvisado à esquerda, a partir do minuto 65', quando rendeu Coates.
Neto. Entrou aos 65', para o lugar de Eduardo Quaresma. Passando a ostentar a braçadeira de capitão, após Coates e Gonçalo Inácio. Com todo o mérito.
Jovane. Gyökeres saiu aos 85', recebendo calorosos aplausos da massa adepta. O caboverdiano entrou para o seu lugar, sem comprometer. Marcou livre a rasar a trave (89').